segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

MARIA, A GRANDE MÃE DE DEUS

Amados irmãos e irmãs, neste primeiro dia do ano civil, oito dias depois do nascimento do filho Jesus, a santa Mãe Igreja nos convida a cheios de alegria volvermos nossos corações para aquela que lhe deu à luz, a Virgem pobre de Nazaré, chamada Maria. Foi por meio dela que o Filho de Deus desceu do céu, assumiu a nossa condição e entrou na nossa história. Esta verdade de fé e de salvação, nós escutamos na segunda leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas, “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou ao mundo, o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito a lei”.

Vejam, Maria, a virgem santa e esposa de São José, é esta mulher, tantas vezes predita pelos profetas no Antigo Testamento, e que foi escolhida por Deus, preenchida por sua graça, para que no tempo certo, o  Filho unigênito do Pai, que é Deus de Deus, luz da luz, entrasse no mundo, e se fizesse homem, nascendo em seu seio,  para resgatar a humanidade da escravidão do pecado. Deste modo, porque Maria na força do Espírito Santo gerou o Verbo de Deus humanamente, ela é reconhecida e proclamada com fé como a Grande Mãe de Deus (Theotokos). 

Que grande graça! Que grande benção! O Pai derramou na vida da Virgem Maria, ter se tornado mãe do Filho de Deus. Todavia, não bastando esta tão grande graça, também lhe foi concedida a honra de pôr o nome em seu Filho; nós escutamos no Evangelho: “quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus”. Esta missão já havia sido foi anunciada pelo anjo Gabriel: “darás a luz um filho a quem porás o nome de Jesus”. Este nome precioso que foi dado ao menino, significa: “Deus Salva”. Que nome belo e que nome santo!  ele revela para nós, três coisas preciosas, primeiro a identidade do menino, Ele é homem, mas sobretudo, Ele é Deus; segundo, a sua missão, Ele veio para salvar a humanidade, e terceiro, a  salvação trazida a nós, nos enche de alegria, pois nele nós encontramos a vida nova, a felicidade, o amor, a concórdia e a paz.

Por isso que hoje nós também celebramos o dia mundial da paz, porque por meio de Maria nos foi dado àquele que é o Príncipe da paz, ou melhor, aquele que é a verdadeira paz, como nos diz São Paulo: “Jesus é a nossa Paz”. É Ele que acalma as guerras e as tribulações da vida tão sofrida de cada um de nós, das nossas famílias, da nossa cidade, do nosso estado e do mundo inteiro.

Por fim,  também é por meio de Maria, que em seu Filho Jesus nós recebemos toda graça e toda benção; e a maior graça que de Deus nós recebemos em Jesus, foi o dom da filiação divina, nos tornamos filhos adotivos no Filho Jesus,  participantes da vida divina, e por isso nele e com Ele nós podemos clamar Abbá, ou seja, chamar a Deus de Pai. Portanto, como filhos e filhas peçamos com humildade de coração ao Senhor Deus, para que ele nos conduza, ilumine as nossas vidas, nos conceda a paz, o amor, a concórdia ao longo deste ano, mas, sobretudo, peçamos que ele derrame as suas bênçãos generosas sobre cada um de nós para que vivamos um Ano Novo cheio de felicidade; que “o Senhor nos abençoe, e nos guarde! O Senhor faça brilhar sobre nós a sua face e se compadeça de nós! O Senhor volte para nós, a sua face e nos dê a sua paz”. Entretanto, mesmo em meio aos sofrimentos, dores, perdas que venhamos a enfrentar, sejamos encorajados pela certeza de que a benção do Senhor é sinal de sua presença constante em nossas vidas. Amém.


sábado, 29 de dezembro de 2012

A DIVINA FAMÍLIA DE NAZARÉ

Caros irmãos e irmãs em Jesus Cristo, neste domingo dentro das alegrias da oitava do natal celebramos a Festa da Sagrada Família. Em verdade, o natal é a festa da Família, este tempo é momento onde todas as famílias se reúnem e se encontram para celebrar e se confraternizar pelas alegrias vividas, com banquetes e com dons; mas também, e, sobretudo, o natal é a festa da Família, porque Deus, veio ao mundo e se fez homem, nasceu e cresceu no seio de uma família: Um Pai adotivo, José; uma Mãe, Maria e um filho, Jesus. Esta família é santa porque nela, o Deus Uno e Trino se revelou e para ela Deus tinha uma missão.

As leituras desta santa liturgia nos fazem descobrir o esplêndido valor que a Família possui. Comecemos pelo Evangelho, S. Lucas nos narra Jesus aos 12 anos no Templo; diz-nos que seus pais como pessoas piedosas e de fé sobem para Jerusalém para a grande festa da páscoa, aqui nós já percebemos que a Família de Nazaré era uma família que vivia nos caminhos de Deus, que caminhava para Deus. Pois bem, na viagem de volta José e Maria não percebem que o menino tinha ficado, depois de três dias o encontram no templo conversando no meio dos mestres e doutores da lei. Quando sua mãe preocupada e aflita lhe pede explicações, o menino Jesus diz: “Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai” (Lc 2,50). Aqui se revela para nós algo muito belo! Reparem, primeiro esta resposta de Jesus aos seus pais, revela que Ele tem esse amor e zelo pelo Templo e por Deus, porque Ele é filho de Deus, sua origem é divina, e por isso em obediência filial, deve viver e fazer a vontade de seu Deus e Pai, deve estar sempre em comunhão com ele, por isso tem esse amor e zelo. Entretanto, olhando para este jovenzinho de 12 anos, ele como homem, podemos perguntar: de quem ele aprendeu esse zelo pelas coisas do Pai que o faz estar no Templo rezando, partilhando os ensinamentos? A resposta não é difícil, por meio de seus pais, Maria e José, pessoas de fé e de amor a Deus, eles o educaram no amor a Deus.

Daqui nós entendemos que a família, os pais, devem a exemplo de Maria e José, serem uma família de fé, temente a Deus, que reza, que partilha a palavra de Deus e que por isso pode também educar os seus filhos na fé cristã, nos caminhos de Deus, ensinando-os a rezar as primeiras orações e rezando com eles, orientando-os para a catequese, vindo com eles para missa, enfim, conduzindo-os nos caminhos de Deus. Assim vamos construindo uma família sagrada, onde o ar que se respira é o desejo de sempre fazer a vontade de Deus.

Na primeira leitura, retirada do livro do Eclesiástico, nós encontramos algumas palavras dirigidas aos filhos, a eles e a nós no tempo presente o autor sagrado diz: “Honrai teu pai”, com estas palavras nós lembramos do 4º mandamento da Lei de Deus (Ex 20,12). E vejam, honrar quer dizer dar glória e dar todo respeito a alguém que é importante. Neste caso, os filhos são chamados a respeitar seus pais, porque eles são instrumentos do amor de Deus para doar a vida, nos pais nós contemplamos a imagem de Deus. Por isso os filhos devem em todo tempo e circunstância da vida respeitar o seu pai e sua mãe, escutá-los em seus pedidos e conselhos, amá-los, ser compreensivos, ser caridosos, não ser causa de desgosto para eles, ser obedientes, como o próprio Jesus que foi não somente obediente ao seu Deus e Pai, mas também aos seus pais humanos, assim dizia o Evangelho: “Jesus, era obediente aos seus pais” (Lc 2,51)

E existe, ainda algo muito importante, os filhos, na idade avançada de seus pais, ou na debilidade das doenças que os afligem, devem estar mais próximos ainda de seus pais, sendo-lhes um cajadinho de amor, de refúgio, devem amparar aqueles que um dia lhes ampararam; não devem cair no triste pecado de abandoná-los, nem desprezá-los, jogando-os em asilos, como se fosse alguém que não tem mais valor e que não presta mais para estar ao nosso redor; os filhos devem ter a paciência de suportar a fragilidade da idade e da lucidez e do esquecimento. Enfim, se vós amados filhos viverdes a caridade e o amor para com teus pais, neste tempo presente de tua vida, estarás juntando tesouros de salvação no céu, estarás amando ao próprio Deus que um dia te amou e te deu a vida.

Na segunda leitura, temos uma última exortação para todas as famílias: o dom da família nasce do amor de Deus, é este amor que une marido e mulher e faz gerar filhos, por isso que na vida familiar este amor deve ser constante, porque ele é a seiva que da vida ao coração da família, por isso o apóstolo Paulo nos exorta: “revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro”. O amor é a doação mútua ente pais e filhos, que se respeitam e que vivem uma comunhão e partilha de suas vidas, que mesmo em meio as dificuldades e dissabores que envolvem em muitas ocasiões a família sabem vencer estas adversidades, amando-se cada vez mais. E quem ama sabe também perdoar, quando um ou outro fraqueja e erra nas escolhas e decisões da vida que envolve a família. O perdão nasce do amor, as famílias se destroem, seja pela separação, pelo divórcio, pela traição, porque primeiro os cônjuges não sabem amar, mas fingem que amam, ou nunca se amaram; é fácil escutar alguém dizer: "eu me separei porque o amor que eu tinha por ele ou ela, acabou". Meu irmãozinho, não foi o amor que acabou, foi você que nunca amou, ou bricou de amar, porque o amor não se acaba, pois ele é eterno. consequentemente, quando não se há amor, porque os pais e os filhos  não se amam, não são capazes de ver no outro alguém tão fraco quanto ele, e por isso se tornam incapazes de dar ao outro o perdão.

Roguemos a Deus que a exemplo da sagrada família de Nazaré, as famílias de todo o mundo, sejam celeiros de vida e de amor, casas de oração, lugares santificados pela graça de Deus, cheios da paz, do amor e do perdão. Roguemos, pois a sagrada família a sua intercessão: Jesus, Maria e José, a nossa família vossa é. Amém.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

HOJE UMA LUZ BRILHOU PARA NÓS: NASCEU JESUS, O SALVADOR.

“Eu vos trago a Boa-Nova de uma grande alegria, o povo que andava na escuridão viu uma grande Luz, Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo Senhor”.

Estas santas palavras revelam a grande atmosfera de alegria que envolve esta celebração, outrora elas foram anunciadas ao povo de Israel, e aos pobres pastores, e hoje são anunciadas a nós. Hoje esta Igreja se torna a Nova Belém onde os anjos de Deus anunciam a nós o nascimento do salvador. Sim Belém é aqui, aqui é natal. Nós somos este povo pobre que em meio a escuridão e as trevas que envolvem nosso coração pelos sofrimentos, dores, angústias e infelicidades da vida, recebe nesta noite santa esta mensagem de alegria e salvação: uma grande Luz brilha sobre toda a humanidade e sobre a terra de nossos corações, esta Luz é a glória de Deus que se manifesta no pequeno menino deitado na humilde manjedoura. Nesta humilde criança, vemos o Verbo de Deus que existia junto do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, e que hoje se fez carne e veio habitar em nosso meio; e como nos diz São João: “Nele nós vimos a glória de Deus” (Jo 1,14), pois “Ele é a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,9). É a luz que veio para iluminar a minha vida, a tua vida, a vida da tua família, a vida dos doentes, dos pobres, dos encarcerados, de todos aqueles que sofrem.

Por conseguinte, amados irmãos e irmãos, olhando para o presépio nós contemplamos “a graça de Deus que foi manifestada a nós e a todos os homens” (Tt 2,11), o grande amor que Deus tem para conosco; esta graça e este amor nós vemos nesta humilde criança reclinada na manjedoura; nela, vemos aonde Deus chega para nos amar.  Reparem, este pobre menino é o Salvador, é o Messias, o Cristo, o ungido de Deus, é o Senhor, é o Filho de Deus, que para manifestar o seu amor e a sua salvação Ele, o Criador fez-se criatura, Aquele que é Grande, fez-se pequeno, Aquele que é Forte fez-se fraco, Aquele que sustenta todo o universo, na noite de hoje quer ser sustentado por cada um de nós, o Deus Tão grande e onipotente que os céus não podem conter, desce de sua glória e se faz pequeno a ponto de caber numa manjedoura. Que mistério de amor! Isso nos faz entender que Deus é grande, mas se revela simples e pobre. Na verdade nos diz São Paulo: “Ele sendo rico fez-se pobre, para com a sua pobreza nos enriquecer”. Pois bem, a simplicidade é o rosto de Deus, a simplicidade é o sinal de Deus, de quem quer conhece-lo de verdade.

Este foi o sinal que fora dado pelo anjo aos pastores e hoje é dado a cada um de nós: “Ide a Belém, e lá encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Este menino nasce de uma virgem pobre, Maria; nasce numa cidade pobre, Belém; nasce num local pobre, uma estribaria; nasce como um pobre e indefeso. Nele vemos a imagem de todos aqueles que são pobres, as crianças indefesas, as que são abortadas, as quem vivem na rua, as que foram abandonadas por seus pais, vemos nele também os drogados, as prostitutas e os que passam fome.  E vejam, que coisa extraordinária, os primeiros que contemplam o Deus que se fez pobre, são pessoas que não tinham valor algum, gente pobre e humilde, os pastores; eles representam todos os pobres, todos aqueles que esperam por uma vida feliz. Eles são a imagem de cada um de nós que batalhamos nos campos da vida, somos nós os privilegiados de Deus. Como não nos alegrar com este presente de Deus, assim nos dizia Santo Agostinho: “Desperta ó cristão, foi por tua causa que Deus se fez homem”. Portanto, Jesus nasce entre os pastores porque Ele é o Grande Pastor que apascentará a humanidade, que dará a vida pelas suas ovelhas, é ele que nos conduzirá as verdes pastagens de uma vida feliz.

Eis o grandioso mistério que celebramos nesta noite, Como é grande amor Deus por nós!  Cantemos de alegria com os anjos do céu, demos glória ao nosso Deus, pois a paz reina em nossas vidas; e assim como os pastores, corramos apressadamente até a manjedoura do menino Deus, para adorá-lo e amá-lo, pois como diz o belíssimo canto do Adeste Fideles:  “tanto amou-nos quem não há de amá-lo, ó Vinde adoremos o salvador”. Nós te adoramos e te amamos ó menino Deus, realiza em nossas vidas um eterno natal. Assim seja!


sábado, 22 de dezembro de 2012

MARIA, TRAZ EM SEU SEIO A PALAVRA DE DEUS.

Este é o último domingo do advento, a Celebração do Natal do Senhor se aproxima cada vez mais, e a santa liturgia vai nos inserindo neste mistério santíssimo de nossa salvação.

Na primeira leitura da profecia de Miquéias, vemos o lugar onde nascerá o salvador da justiça: “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade”. Deus escolheu a pequenina cidade de Belém, a cidade do Pão, porque nela nasceria aquele que é o Pão descido do céu, o Verbo que existe desde toda a eternidade, o Pastor que nos apascenta e que alimenta a humanidade sofrida e abandonada pelas dores da vida.  Nós enfrentaremos estes sofrimentos até o momento em que uma “mãe der a luz a um Filho”; aqui nós logo entendemos que se trata de Maria, nela o Pão da Vida, entra no mundo e em nossa história, nela Deus recebe um corpo, a Palavra  se fará carne, assim nos diz a segunda leitura: “Ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo”. Este corpo que o Verbo recebe de Maria será oferecido em sacrifício como alimento, como oferenda pura e santa.

O Evangelho nos relata a Visita de Maria a sua prima Isabel, Maria, jovenzinha de Nazaré, com aproximadamente 12 anos estando grávida, parte apressadamente pelas montanhas da Judéia. E Vejam, este caminho outrora, foi percorrido pela arca da Aliança (2Sm 6,2), o lugar da presença de Deus nela estava as tábuas da Lei; e hoje é percorrido por Maria, que se revela como a nova arca da aliança, o Novo Tabernáculo, o Novo Sacrário onde Deus Habita, ela traz em seu ventre, a Palavra, o Verbo que se fará carne, se tornando o Pão que alimenta a humanidade. Por conseguinte, Maria se dirige apressadamente à casa de Isabel. E podemos nos perguntar: Por que Maria vai com tanta pressa? Porque ela crê na promessa que Deus fez, e também porque está cheia do Espírito Santo, cheia da alegria que vem de Deus, cheia da Palavra de Deus; lembremo-nos que Maria guardou no seu coração a Palavra do anjo, e em caridade deseja leva-la a sua prima.

Pois bem, Maria ao entrar na casa de Isabel saudou-a, a palavra que Ela utilizou para saudar Isabel não nos é dita, todavia, a saudação judaica de costume era: Shalom – “a paz esteja contigo”. Aqui se revela uma grande verdade, Maria não somente deseja à paz, ela traz dentro de si, aquele que é a paz. Esta verdade era asseverada pela primeira leitura que nos dizia:  “aquele que nascerá da Mãe... e ele mesmo será a Paz”, São Paulo nos diz: “Cristo é a nossa paz” (Ef 2,14). É por isso, que quando Maria saúda Isabel, esta fica cheia do Espírito Santo, isto acontece porque Maria vem ao seu encontro cheia do Espírito Santo, e por isso santifica Isabel.

Por conseguinte, a criança pula no ventre ditoso de Isabel, porque Ele reconhece que diante dele está a Nova Arca da Aliança, que traz o salvador, o Messias, o príncipe da paz, o Pão vivo que alimenta a humanidade, pulo da mesma forma como o Rei Davi havia pulado e dançado diante da Arca da Aliança. Por fim, Isabel saúda Maria: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre, como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar”. Sim, Maria é bendita, porque acreditou na Palavra de Deus e por isso a traz em seu seio, esta Palavra  é o fruto Bendito que nos alimenta, que dá vida a nossa vida. O mais interessante é que Isabel utiliza as mesmas palavras de Davi ao ter diante de si a Arca da Aliança, este disse: Como posso merecer que a arca de meu Deus venha à minha casa (2Sm 6,9), e Isabel diz: como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar”. Isabel reconhece que diante dela está a Nova Arca da Aliança que traz a Palavra que se fará carne, a Nova lei que por amor nos alimentará.

Queridos irmãos e irmãs, daqui a pouco ao nos aproximarmos da sagrada comunhão, nós também nos tornaremos habitação de Deus, como Maria, Nova Arca da Aliança, em nosso ser, o Pão descido do céu, a Palavra se fará carne, e em nós irá habitar, que grande presente de amor Deus nos concede! Que trazendo em nós esta Palavra feito carne, com fé e amor, percorrendo as montanhas de nossa vida, a levemos às nossas casas, às nossas famílias, levemos esta alegria a todos aqueles que passam pelo chão de nossa história. E que a nossa casa seja uma nova Belém, onde Jesus Pão descido do céu nela encontra a sua morada. Que assim seja! Amém!

sábado, 15 de dezembro de 2012

ALEGRAI-VOS, O SENHOR ESTÁ PRÓXIMO

Amados irmãos e irmãs, celebrando este 3º Domingo do Advento, a santa mãe Igreja nos convida à Alegria de Espírito, este domingo é chamado de Domingo Gaudete, ou seja, Domingo da Alegria, assim nós escutamos na 2ª leitura: Alegrai-vos sempre no Senhor, sem cessar eu repito: Alegrai-vos! Mas qual é a razão que nos leva a neste tempo de conversão e penitência a nos rejubilarmos com tamanha alegria? É a vinda do Senhor, a sua chegada em nosso meio, o seu Natal, o Senhor, o nosso Redentor que já está próximo de nós, é ele que vem conceder a paz, a alegria e a salvação para a nossa vida.

Na primeira leitura, o profeta Sofonias já convidava o povo de Israel, povo cansado, derrotado, aflito, machucado a se rejubilar, a cantar de alegria, a exultar de todo coração, porque Deus virá para salvar o seu povo (Sf 3,14), para dar-lhe a salvação e a felicidade, pois Israel é o resto, o povo humilde e simples que Deus escolheu para habitar em seu meio.  E vejam amados irmãos e irmãs, este mesmo convite à alegria foi feito a humilde serva de Deus, a Filha de Sião, a Virgem Maria, por meio do anjo que disse: alegra-te cheia de graça (Lc 1,28), Deus Pai te escolheu, para em ti, o Verbo eterno se encarnar, para no meio de tua vida e de teu coração, Deus fazer a sua morada. Portanto, Maria é pois, a Nova Sião, a nova Jerusalém.

E hoje este convite de alegria é feito a nós, povo simples e pobre, sofrido e cansado, não temamos em meios as aflições, não nos deixemos levar pelo desânimo das derrotas da vida, alegremo-nos, Deus escolheu o nosso coração, a nossa casa interior para nela habitar, ou seja, naquele dia (Sf 3,16), no dia de seu nascimento, do seu natal, o lugar onde ele deseja manifestar a sua alegria é em nós. Deus, deseja se encarnar na nossa vida, o presépio que o Menino Deus deseja ser posto é o nosso coração.

E isto não somente é motivo de alegria para nós, mas também, para o próprio Deus, assim nos dizia o profeta no final da Primeira leitura: “O Senhor teu Deus, está no meio de ti, ele exultará de alegria por ti, movido por amor, exultará por ti entre louvores” (Sf 3,17). Sim, queridos irmãos, nós não temos méritos nenhum para que o Senhor faça sua morada em nós, é unicamente pelo seu amor, porque Ele nos ama, Ele cheio de alegria vem a nós, porque somos dele, e seu amor salvador é causa de alegria para nós e para toda a humanidade. Deveras, Jesus é a alegria dos homens.

Conscientes desta vinda do Senhor em nós, na terra de nossa história, e chamados a exultarmos de alegria; olhando para dentro de nós sabemos que precisamos ainda purificar o nosso coração, preparar ainda mais a nossa morada interior, por isso podemos fazer a pergunta que a multidão, os cobradores de impostos e os soldados fizeram a João Batista no Evangelho de hoje: o que devemos fazer? (Lc 3,11) As três respostas que são dadas por João ao Povo, são na verdade um convite à conversão, e, sobretudo, a vivermos a virtude do amor. Sim, nos foi dito que é por amor que Deus vem a nós, Ele mesmo é o amor que deseja habitar em nós, então, como podemos acolher o amor, se nós mesmos não amamos, não vivemos este amor?

A Multidão, os cobradores de impostos e os soldados são imagem de cada um de nós, primeiro temos a infeliz tentação de ser como a Multidão, falatmos com a caridade, de não sabermos partilhar com os que sofrem e que são necessitados; depois, somos como os cobradores de impostos, muitas vezes somos marcados pela soberba, queremos tudo para nós, somos prepotentes, orgulhosos e vaidosos. E por fim, somos como os soldados romanos, tratamos os outros com dureza, nos deixamos levar pela raiva, pelo ódio, agredimos os outros com ações e palavras.

Então, amados irmãos e irmãs para bem acolhermos o Senhor que está próximo, que vem ao nosso encontro, convertamo-nos, mudemos de vida, nos deixemos tocar e transformar por esta palavra, abramos as portas de nosso interior para que o Senhor que é Mais forte do que nós, recolha toda imundície do pecado, e que vivamos com alegria o amor que Deus pede de nós, para que assim o Amor Encarnado, encontre um digno espaço na manjedoura de nosso coração, no albergue de nossa vida. Assim seja, amém!

domingo, 9 de dezembro de 2012

PREPARAI O CAMINHO DE TUA VIDA PARA O SENHOR

Queridos irmãos e irmãs, quão rico de espiritualidade é este tempo de Advento, que prepara a nossa vida, qual manjedoura onde o Deus menino deseja fazer a sua morada. Vejam, a vida humana é uma caminhada para um grande Dia, o Dia de Cristo, dia feliz, dia cheio de esplendor, peregrinamos numa grande procissão de vidas que rumam para a terra prometida do coração de Deus. Todavia, nesta caminhada, nós experimentamos o deserto da vida, marcado pela sequidão da dor, pelo sofrimento, pelas angústias da vida, pelas aflições, muitas vezes até somos impedidos de dar passos, porque os nossos pecados nos aprisionam, prendem a nossa vida na terra da escravidão, ficamos sem esperança, sem alento, o desespero bate na porta de nosso coração. Nós abrimos vales, covas, sepulcros de infelicidade, erguemos montes e colinas de orgulho; e hoje, Deus diz para cada um de nós por meio do profeta Baruc: “abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas, e se enchessem os vales, para aplainar a terra, a fim de que Israel caminhe com segurança, sob a glória de Deus”. Somos chamados a converter a nossa vida, nossa maneira de pensar e de agir, Deus pede que  aterremos os vales, as covas de sofrimento, de dor, de pecado, e a abaixar os montes, as colinas de nosso orgulho e prepotência, a fim de que caminhemos com passos firmes para o dia que o Senhor tem preparado para nós.
O Evangelho nos insere neste mesmo contexto, o Tempo do Advento nos traz algumas figuras bíblicas que nos ajudam a preparar nosso coração para celebrarmos o natal do Senhor, e uma destas figuras é João Batista, é Ele o precursor, a voz que prepara os caminhos que serão percorridos pela Palavra, pelo Messias, por Jesus. E hoje, o Batista, adverte a cada um de nós, com palavras semelhantes à do profeta Baruc na primeira leitura, e nos diz: “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados”.
Vejam, que coisa bela, não é somente nós que estamos numa caminhada para Deus, mas é o próprio Deus que olhando para nossas fraquezas, sofrimentos, dores, e aflições vem até nós, vem ao nosso encontro, vem tocando o chão de nossa história. Por isso, que o Evangelho no seu início nos mostrava algumas figuras históricas, indicando que Deus, Jesus, o messias Salvador, veio e vem na história humana, vem na nossa vida, vem ao nosso coração, para nele fazer sua morada. Por isso, mister, se faz que preparemos o caminho de nossa vida para o Senhor. Primeiro, o Senhor não pode habitar num coração transviado, dúbio que não sabe se quer ser de Deus ou do tentador, que busca apoio e descanso em veredas falsas; Deus não deseja habitar numa vida torta, atrofiada pelo pecado, mas anseia que a aplainemos, e a deixemos reta, com uma vida de retidão, depois ele não deseja morar num vale de dor e sofrimento, como muitas vezes se encontra nosso coração, e cada um de nós, afundados em nossos desesperos, o Senhor anseia que derrubemos os montes e colinas de nossa vaidade, soberba, retiremos as pedras de tropeço, que tapemos o buracos que o pecado abriu no nosso coração.
Assim, sendo, nos deixando converter pela palavra de Deus, o Senhor encontrará um caminho, uma história, um chão novo, uma terra nova para nela passar e permanecer. E portanto, virmos a experimentar a salvação que somente o próprio Deus pode nos conceder. Que de nosso coração possam brotar ardentemente as palavras cheias de fé do salmista que diz:  Mudai a nossa sorte, ó Senhor,/ como torrentes no deserto./ Os que lançam as sementes entre lágrimas,/ ceifarão com alegria”. Assim, seja!!!!.

sábado, 1 de dezembro de 2012

ERGUEI A CABEÇA, A VOSSA LIBERTAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA

Amados irmãos e irmãs, estamos reunidos na fé da Igreja, para com ela iniciarmos um Novo ano Litúrgico, que se abre com esta celebração do Primeiro Domingo do Advento.

Antes de tudo quero dizer-vos o que significa este tempo que nos prepara para celebrar o natal do Senhor, sua vinda em nossa carne. A palavra Advento significa: chegada, presença, vinda. Antigamente, ela era usada para indicar a visita dos reis e imperadores ao seu povo. Os cristãos tomam esta idéia e a relacionam ao Rei Jesus, o Filho de Deus que vem visitar o seu povo, Ele que vem dirigir a nossa vida, para tanto, o tempo do advento é marcado pela espera e pela vigilância que nos convida a preparamos com piedade a nossa casa interior para recebermos este Rei que vem. Portanto, este sagrado tempo nos convida a recordarmos espiritualmente a Vinda de Deus em nossa história, Ele veio uma primeira vez em nossa carne, mas também Ele virá uma segunda vez, no fim dos tempos. Aqui se expressa a característica do tempo do Advento, ele se divide em dois: 1 Domingo até o dia 16 de dezembro meditaremos sobre o Advento escatológico, e do dia 17 de dezembro ao dia 23 meditaremos sobre o Advento natalício.

Pois bem, neste Primeiro domingo a Igreja nos convida a olharmos para  o Futuro, a Segunda Vinda de Jesus em nossa história, Deus que virá para salvar o seu povo da terra da escravidão. Na Primeira leitura o profeta Jeremias se dirige a um povo amargurado, angustiado, sofrido, sem esperança, com sua alma quebrada, que depois de estar preso, volta para a sua casa (Terra) e a encontra toda destruída, e, por conseguinte, este povo se acha sem forças para reconstruir a própria vida, por isso chora e geme de tristeza e dor. Este povo é imagem de cada um de nós, marcados como somos e estamos pelos sofrimentos, angústias, aflições, desesperos. Todavia, Deus por meio de seu profeta faz uma promessa, enche o coração do povo de esperança, e hoje também anseia por reavivar a esperança em nossos corações; eis que no futuro próximo, “Deus vai fazer brotar de Davi uma semente, um rebento de justiça, o qual salvará o seu povo (Jr 33, 15). Quem é este rebento? É Jesus, é Ele o descendente  de Davi, por meio de seu pai adotivo, José. Já nos dizia a profecia de Isaías: Um ramo sairá do Tronco de Jessé, um rebento brotará de suas raízes, sobre ele repousará o Espírito de Deus” (Is 11,1). Em verdade Jesus é este rebento, sobre o qual o Espírito do Senhor pousou (Lc 4,18), Ele trará para nós, a justiça, a paz, a felicidade plena, libertando-nos da escravidão de nossos medos, temores e inseguranças.

No Evangelho, Jesus fala a seus discípulos, e hoje a nós, de um tempo novo que virá, um mundo novo que será criado, mas que será antecipado por sinais cósmicos, 25“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. 26Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas.  Veja, não é que o fim do mundo será marcado por  catástrofes, mas por meio destes sinais apocalípticos Deus nos faz ver que este mundo é limitado, passa, é finito. Todavia, também nos faz ver que Deus trará um novo mundo,  por isto que estes versículos são muito semelhantes, ao caos inicial visto quando Deus iniciou a criação do mundo (Gn 1,1-2).
Por conseguinte, não devemos desanimar, nem ter medo, se até mesmo os males e sofrimentos do tempo presente nos afligem, somos encorajados a por esta promessa cheia de esperança:  “Eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Sim, amados irmãos, estamos neste mundo como que aprisionados, cativos, sufocados pelas derrotas da vida, quantas e quantas vezes baixamos nossa cabeça, a dor ofusca nosso olhar, arranca o brilho de esperança e de felicidade que reluz em nós. Mas Deus hoje nos dá esta certeza, Ele virá para nos libertar de nossas prisões interiores, Ele virá para mudar o rumo de nossa história, deveremos erguer nossas cabeças e olhar para o céu, o firmamento, para o horizonte do coração de Deus, pois é de lá, que virá a nossa libertação, a nossa salvação.

Entretanto, o Senhor pede de nós a vigilância, pede que abandonemos às obras e a vida de pecado, e  a tudo aquilo que embriaga o nosso coração, fazendo-nos tropeçar na estrada que conduz até Deus e nos afasta dele. Devemos em todo instante de nossa vida estarmos atentos e vigilantes na oração, atentos em praticar boas obras que edifiquem nossa vida como nos diz a segunda leitura:Irmãos: O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós”. Nós conhecemos a forma de vida que nos leva para Deus, progridamos, pois neste caminho, e que com passos firmes e coração cheio de fé e esperança, aguardemos em prontidão, o dia da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.

sábado, 24 de novembro de 2012

O CRISTO QUE REINA DA CRUZ

Neste último domingo do ano litúrgico, celebramos a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Esta celebração indica que toda a história, a vida da Igreja possui um centro, que ao mesmo tempo é o princípio e o fim de tudo: Jesus; é Ele o “Alfa e o Ômega, aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso” (Ap 1,8) Jesus é o Senhor do tempo e da história, para se direciona toda a nossa vida.

As leituras propostas nos mostram em todo o esplendor da verdade a realeza de Jesus. Queria começar esta homilia pelo Evangelho, que nos mostra o interrogatório de Jesus com Pilatos na proximidade de sua paixão. Vejam, Pilatos pergunta a Jesus: “Tu és o rei dos judeus?” (Jo 18,33). Pilatos é imagem do mundo de hoje, dos reis e senhores que tem dúvidas e se interrogam sobre o reinado de Jesus: será que este homem é de fato o Rei esperado pelas nações, aquele que domina toda a terra? À pergunta de Pilatos, Jesus responde com uma palavra clara e direta:  “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Esta afirmação de Jesus revela que o reino dele não tem origem aqui na terra, não é um reino marcado pela opressão, pelo poder desmedido, pela força, pela corrupção, pela prepotência, pela ganância de poder, um reino destruidor com guerras e armas. O reino de Jesus vem do céu, vem de Deus, tem outra lógica. É por isso que Pilatos não compreende como Jesus poderia ser rei, sem agir e nem viver como um verdadeiro rei, nas prerrogativas humanas, e por isso o interroga de novo: “Então, tu és rei?”(Jo 18, 37) e daí, Jesus afirma: “Eu sou Rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37).

Sim, Jesus veio ao mundo para ser Rei, e isto revela a sua identidade e a sua missão. Antes mesmo de Jesus nascer ele foi proclamado Rei, quando o anjo disse a Maria: “Este menino que nascerá de ti, o Senhor Deus vai dar-lhe o trono de Davi, ele reinará na casa de Jacó e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32).  Quando Jesus nasceu, os magos deram-lhe honras de Rei, e disseram: “vimos adorar o Rei dos judeus” (Mt 2,2). Jesus é em verdade o Rei das nações, aquele que veio instaurar o seu reino de paz em nossa história. Todavia, quando uma grande multidão quis aclamá-lo como Rei depois de ter feito o milagre da multiplicação os pães (Jo 6,15), diante desta multidão, cheia de fervor, de glória, com os louvores, as honrarias devidas a um rei, Jesus foge, sai, se afasta desta possibilidade, corre para a montanha, porque Ele sabe que a sua realeza não é daqui, do mundo, não é segundo a mentalidade carnal das pessoas.

Por conseguinte, quando adentra em Jerusalém, mais uma vez tendo diante de si uma grande multidão, Ele montado num jumentinho para cumprir a profecia que dizia: “Aí vem o teu rei manso e humilde, montado num jumentinho” (Zc 9,9) ele já vai mostrando que seu reino é simples, pobre e humilde, que seu poder se revelará na fraqueza.  Entretanto, agora diante de Pilatos, sozinho, quando todos os seus o abandonaram, diante de sua paixão, próximo de abraçar a cruz Ele confessa claramente que é Rei.

Amados irmãos e irmãs, sim é na cruz que se manifesta o reinado de Jesus, é por meio dela que Ele manifesta o seu Reino, a sua realeza, e o que é ser Rei, foi para esta hora que Ele veio ao mundo, Ele não podia abandoná-la; até mesmo na hora de sua paixão um dos anciãos zombou dele e disse: “Se tu és o Rei de Israel, desce da cruz, e creremos em ti” (Mt 27,42). Jesus abraçou-a com maior amor, pois é ela a sua glória, é ela o seu trono. Portanto, a realeza de Jesus manifesta na cruz é marcada pela humildade, pela pobreza, pela doação, pelo serviço, pela entrega, é por meio dela que se manifesta que o reinado de Jesus, é o Reino do Amor.  O Amor é a verdade que Ele como “testemunha fiel” (Ap 1,5) venho testemunhar a nós. Em verdade, Deus é Amor, e em toda a sua vida, e, sobretudo, em sua carne crucificada, derramando o seu sangue por amor a nós, entregando-se por inteiro, Jesus manifestou a nós essa verdade. Em sua doação como cordeiro imolado no madeiro da cruz ele se revela em toda plenitude como o verdadeiro Rei que “por seu sangue nos libertou de nossos pecados” (Ap 1,5), vencendo o inimigo.  Deveras, a cruz é o trono real de Jesus, os espinhos são sua coroa, e o seu poder é o Amor, eis a glória do Rei Jesus!

Ao morrer na cruz e ressuscitar como “o primeiro dentre os mortos” (Ap 1,5) como nos diz a segunda leitura, Ele agora não somente é Rei de Israel, mas é também, o Rei de todo o Universo, o Senhor do Tempo e da História, “o Filho do Homem que trespassado vem entre as nuvens” (Dn 7,13), recebe de Deus Pai, o Ancião, todo o poder, toda honra, glória e realeza. Já em sua Paixão o Senhor Jesus tinha manifestado esta sua investidura quando diante dos sumo sacerdotes disse: “Vereis o Filho do homem sentado à direita do poder, vindo sobre as nuvens do céu” (Mt  26,64). Olhando para Jesus, o Filho do Homem, crucificado e ressuscitado, “que vem com as nuvens” (Ap 1,7), entreguemos a ele o rumo de nossa vida, de nossa história, vivamos sob o seu Senhorio, que Ele seja o Rei de nossas vidas, de nossas famílias, e que carregando a cruz cotidiana, encontremos nela o nosso troféu, e que um dia mereçamos a coroa da glória que é a vida feliz. Assim seja!


sábado, 17 de novembro de 2012

A SEGUNDA VINDA DO SENHOR, ALEGRIA PARA NÓS.

Queridos irmãos e irmãs, já nos aproximamos do final do ano civil, mas também, e, sobretudo, do final do ano litúrgico, por isso a Santa Mãe Igreja em sua Divina Liturgia sabiamente nos convida a uma reflexão sobre o Fim da história humana, que responde a pergunta que inquieta nosso ser: Para onde iremos?  Qual é o nosso fim? Sim, nossa vida não é uma caminhada para o nada, mas para um fim que na verdade é o começo da Vida Nova e Plena.

A primeira leitura e o Evangelho estão intimamente relacionados, nos convidam a olhar para o fim dos tempos e da história, por isso se iniciam com expressões semelhantes: “naquele tempo” (Dn 12,1) e “naqueles dias” (Mc 13,24).  Estas duas expressões nos apontam para um Futuro, indicam um Tempo Novo que está para chegar. Entretanto, este Novo Tempo será antecipado por momentos de dor e sofrimento. O Evangelho e a Primeira leitura nos apontam para esta realidade quando falam de: “um tempo de angústia” (Dn 12,1) e “grande tribulação” (Mc 13,24). Assim como o povo de Israel e os cristãos daquela época viveram tempos de perseguição, tribulação, opressão por parte dos reis e imperadores que eram contrários à fé cristã. Nós, o Novo povo de Deus também, enfrentamos as dores, os sofrimentos, as angústias, as decepções, as ilusões, as opressões, as infelicidades desta vida, que nos fazem perder a esperança de experimentarmos uma vida feliz. Mas vejam, todas estas realidades sofridas devem nos fazer entender que o mundo em que vivemos é finito, limitado, marcado pela caducidade da vida; e, por conseguinte, não existe vida eterna, plena e feliz aqui na terra, por mais que o ser humano almeje, corra, lute em busca da felicidade plena aqui na terra, vai se deparar unicamente com o absurdo da própria limitação existencial, a vida vai se tornar uma verdadeira náusea, um verdadeiro assombro.

Todavia, nesta caminhada da vida para o Fim, para o Futuro, Deus vem ao nosso encontro para nos salvar, “para salvar o seu povo” (Dn 12,1). Vem para nos trazer um Tempo Novo; e que Tempo Novo é este? É o que chamamos de Parusia, a segunda Vinda de Cristo, sua chegada em nosso meio. Assim nos mostrava o Evangelho: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Mc 13,26). O Senhor veio uma primeira vez, assumiu a nossa humilde condição, carregou sobre si nossas enfermidades, enfrentou o drama da cruz, morreu pelos nossos pecados e ressurgiu da morte vencedor, recebeu um corpo cheio de glória, e subiu ao céu onde está cheio de esplendor à direita do Pai, foi preparar o nosso lugar, e virá uma segunda vez para “reunir os eleitos” (Mc 13,27), para trazer novos céus e nova terra. O Senhor Jesus virá para nos trazer a Vida definitiva, a vida eterna, que por sinal não deve ser entendida como uma vida cumprida, longa em dias, mas plena, completa de sentido, porque cheia do Espírito de Deus que é eterno. Portanto, a vinda do Senhor transfigurará tudo, os que estão mortos uns ressuscitarão e outros experimentarão o castigo eterno.

Deste modo, nós já entendemos que a nossa vida caminha para Cristo, nós fomos feitos por Ele e para Ele; de modo que podemos afirmar com certeza de fé:  Cristo é o princípio e o fim da nossa história. Agora, poderíamos nos perguntar: e este tempo, quando chegará? Bem, Este tempo na verdade já começou, está às portas (Mc 13,29) nós somos a geração que experimentará no hoje da vida, o fim que se aproxima, “esta geração não passará antes que tudo isso aconteça. Este Novo tempo amados irmãos e irmãs, nos foi aberto pelo dom da Ressurreição de Jesus, nele já experimentamos às primícias do futuro, todavia o dia e a hora que o Senhor voltará em sua glória nós não o sabemos. Não temamos, nem nos deixemos levar pelo medo ou pavor, como muitos adventistas e testemunhas de jeová compreendem e por isso metem medo nas pessoas, mas aguardemos com esperança e vigilância, pois como nos diz Sto. Agostinho: “que espécie de amor a Cristo é esse que tememos que ele venha”. Em cada Eucaristia o Senhor vem ao nosso encontro, de modo que por meio dela já experimentamos a plenitude antecipada, que alimentados por ela sejamos fortalecidos nesta caminhada e  assim com os cristãos do primeiro século digamos com fé e amor: Maranathá, “vem Senhor Jesus”. Amém.



sábado, 10 de novembro de 2012

O SACRIFÍCIO DA VIÚVA - O DOM DE SI PARA DEUS

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos faz atender ao apelo de Jesus aos seus discípulos: “olhai para aquela viúva” (Mc 12,43). Por isso ponhamos nossos olhos e corações nesta viúva; na verdade a liturgia nos mostra duas viúvas, a do Evangelho e a da 1ª Leitura, a viúva de Sarepta. Duas viúvas tão iguais, mas ao mesmo tempo diferentes, nós veremos o por que.

Na primeira leitura vemos Elias que em virtude de uma seca que tomou conta da região israelita, como castigo pelo pecado idolátrico do Rei, fugiu para o território pagão de Sidônia para a cidade de Sarepta, lá chegando encontrou às portas da cidade uma Viúva pobre e pagã, pede-lhe um pouco de água e depois um pedacinho de pão. A pobre viúva não tinha pão para alimentar Elias, por isso ela diz: “pela vida do Senhor teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperarmos a morte” (1Rs 17,12). Mas, diante do grito suplicante da viúva pobre, Elias faz-lhe uma promessa de que Deus não deixará faltar para a pobre viúva e seu filho o sustento de sua vida (1Rs 17,14). A mulher crê, obedece, dá o tudo o que ela tem, todo o sustento de sua vida, que era o resto, ou seja, o pouco que ela ainda tinha, mas que era o seu tudo, oferece ao homem de Deus, ou melhor, ao próprio Deus, o sacrifício de sua prórpia vida, toda a vida dela ela dá, mesmo sendo uma pagã confia em Deus; o milagre acontece, o pão e o azeite se multiplicam, e a viúva tem um final feliz. Na vida desta viúva se realizam as palavras do salmista que a pouco escutamos que diz: “O Senhor é fiel para sempre,/ faz justiça aos que são oprimidos;/ ele dá alimento aos famintos/Quem ampara a viúva e o órfão”.(Sl 145). Sim, amados irmãos e irmãs, Deus é fiel e não nos abandona, em meio aos nossas aflições e dificuldades, diante de nossas misérias. Vejamos, a história de uma outra viúva tão semelhante quanto esta de Sarepta.

O evangelho nos mostra Jesus no Templo de Jerusalém já se aproxima o momento de sua morte dolorosa na cruz, e na última vez que S. marcos mostra Jesus no Templo, é num encontro emocionante e edificante para seus discípulos e a comunidade de fé. Jesus está sentado diante dos cofres do Templo, os chamados gazofilácios, haviam cerca de 13 cofres espalahados pelo Templo, e Jesus olhava a multidão que ia depositando as suas moedas, de modo que os ricos lançavam muitas moedas, mas na verdade eram um nada comparado ao que possuíam, o texto sagrado nos diz: "eles deram do que tinham de sobra" (Mc 12,44). Eis que se aproxima uma pobre viúva, e ela depositou duas pequenas moedas, que moedas são essas? essas moedas eram as leptas, moedas de bronze que tinham um valor insignificante, eram as menores moedas, um nada. Nos dias de hoje elas seriam equivalentes a 5 centavos. Todavia, a beleza que está por trás deste gesto da viúva é que estas duas moedinhas que eram nada, eram na verdade o seu tudo, ela deu tudo o que tinha, todo o seu sustento, “tudo o que ela possuía para viver” (Mc 12,44), ou melhor, podemos traduzir do grego: olon ton bion auths (ela deu toda a sua vida), a viúva ofertou a si mesmo a Deus, experimentou o dom de si, num verdadeiro sacrifício de amor de sua vida a Deus, não se entregou pela metade, com regateios como os ricos fizeram, dando a Deus a sobra da própria vida, eles que são imagem do mundo auto-suficiente, que não precisa de Deus.

Vejam, esse gesto bondoso, generoso e humilde da pobre viúva revela a sua fé, que a faz se abandonar por inteiro em Deus, de entender que toda a sua confiança, de que a toda a sua vida depende de Deus, de que Deus a quer por inteiro, de que ela é toda de Deus. Há uma diferença da viúva de Sarepta para esta do Evangelho, é que esta viúva do evangelho não recebeu nenhuma promessa, nem se quer alguém se aproximou para lhe retribuir algo, nada. Ela apenas confiantemente depositou a sua vida, deu-a por inteiro. Este gesto da viúva é sinal de alguém que sabe que a maior retribuição dada a ela por seu gesto de dar inteiramente a própria vida ela irá receber no céu, a vida plena com Deus.

Agora poderíamos nos perguntar: por que Deus nos quer por inteiro, pede tudo de nós, pede a nossa vida toda? Deus não pede nada a nós, sem antes ele mesmo ter experimentado. A resposta nós encontramos na segunda leitura de hoje que nos mostra o único e definitivo sacrifício de Cristo na cruz, “Cristo oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28). Jesus entregou-se inteiramente por amor a nós, se fez nada para nos dar o tudo que é a salvação. Cristo se deu todo, derramou todo o seu sangue, aceitou enfrentar nossas dores, sofrimentos e angústias, por amor, porque nos quer não para o pecado ams todo para ele.  Então, Deus pede toda a nossa vida, porque somos dele, nossa vida é dele, tudo o que temos e somos é dele, é Ele o nosso Senhor e Salvador.

O Senhor nos deu tudo, e nós, será que somos capazes de nos dar inteiramente a Ele, oferecendo o sacrifício da própria vida? Quantas e quantas vezes não damos o nosso tempo, nossos gestos, palavras, ações a Deus, quantas e quantas vezes damos pra Deus o tempo lixo, a nossa sobra, e para o mundo damos tudo. Amados irmãos e irmãs, daqui a pouco receberemos a vida do próprio Deus em alimento, já recebemos o alimento de sua palavra, ele já nos deu tudo, agora nos dará o tudo de sua própria vida, alimentados da vida do próprio Deus, demos a ele o tudo de nossa vida, e digamos sou todo teu Senhor, minha vida é toda tua, por ti eu me ofereço em sacrifício porque de nada vale o meu existir se não for para te ofertar, sou todo Teu Senhor. Amém!  


sábado, 3 de novembro de 2012

SERMOS SANTOS, EIS A NOSSA META!

Caros irmãos e irmãs, “alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os Santos”, assim rezamos na antífona de entrada desta celebração. Em verdade nossos corações cheios de alegria aqui na terra, se voltam para o céu, para louvar a Deus que é a fonte de toda a Santidade, e que nos chama a participarmos de sua glória, assim como dela já participam uma multidão de irmãos e irmãs que já aqui na terra uniram as suas vidas a Deus.

A primeira leitura nos mostra uma multidão! Primeiro de 144.000. Quem é esta multidão? Vejam, o número de 144.000 é muito significativo, é a soma de 12x12x1000, indica o Antigo Israel (12 tribos) e o Novo Israel (12 apóstolos), raça escolhida povo santo de Deus. Existe ainda mais! "Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro".  Esta multidão incalculável são todos os povos da terra chamados à santidade.  E nesta multidão incontável estão os santos, que agora estão no céu, de pé diante do trono e do cordeiro, trajam a veste branca da pureza e da santidade, estão revestidos da glória de Cristo, e trazem em suas mãos a palma da vitória, pois combateram o bom combate da fé. Entretanto, para alcançarem a glória da santidade eles tiveram que enfrentar a “grande tribulação”, ou seja, as dores e sofrimentos da vida, carregando as suas cruzes, unindo-se a Cristo, por isso lavaram as suas vestes no sangue redentor do cordeiro.

Olhando, para os santos que ornam como estrelas, o firmamento do céu de Deus, nós poderemos nos perguntar: como é que podemos ser santos? Primeiro, ser santo não é fazer obras extraordinárias, ou ter dons e carismas extraordinários, mas é viver a simplicidade de ser Deus, é viver a pobreza de si, sabendo que sua força é Deus. Depois, Santo não é alguém que nunca errou, mas é alguém que mesmo errando na estrada da vida, buscou se reconciliar com Deus e unir a sua vida a Ele. Ser santo é não desanimar diante da cruz e dos sofrimentos do tempo presente, mas agarrá-la como o único meio eficaz que te conduzirá à glória.

Por isso, irmãos e irmãs, a santidade não é para um grupo eleito, é para todos nós, ela revela a vocação para a qual Deus nos chamou, assim recorda-nos S. Paulo quando nos diz: “Escolheu-nos e abençoou-nos em Jesus Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, para sermos seus filhos adotivos”( Ef 1,4-5). Ou seja, Deus nos chama para participarmos de sua vida divina, é isso que nos mostra a segunda leitura: "Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!" (1Jo 3,1). No dia de nosso batismo, ao recebermos a filiação divina, nos tornamos filhos no Filho Jesus, ali Deus nos separou (Kadosh), ou seja, nos tornou santos, fomos marcados com o selo de Deus que é o Espírito Santo (2Cor 1,22), e revestidos da veste branca da pureza e da graça que é Cristo. Deste modo entendemos que a santidade consiste em vivermos como filhos de Deus.  

Todavia, a santidade é um processo no qual vamos atingindo a cada dia até se tornar pleno na glória, por isso S. João nos dizia: desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”. Para tal fim, temos um caminho, e este caminho é uma pessoa: Cristo! É Ele o caminho da vida eterna, da vida santa e feliz com Deus. É isto que nos mostra o Evangelho, que narra as Bem-Aventuranças. Na verdade estas Bem-aventuranças são um retrato da imagem do próprio Jesus, é ele o pobre, o aflito, o faminto, o manso, o puro de coração, o faminto e sedento de justiça, o misericordioso, o perseguido, aquele que promove a paz. Portanto, Ser santo é encarnar na própria vida a Vida de Jesus, é estar sempre unido a Ele, é viver a vida de Deus e com Deus aqui na terra, para que assim se torne pleno o dom da santidade que recebemos, e assim a vivamos com Deus em sua glória.  Termino esta homilia dizendo que ser santo é renunciar a si mesmo para ser todo de Deus, peçamos, pois, a intercessão da Virgem Maria, a maior dentre os santos, que como ninguém soube viver unida a Deus, para que ela nos ajude a também sermos todo de Deus. Amém!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

"EU NÃO MORRO, MAS ENTRO NA VIDA"

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, no inicio desta celebração foram pronunciados os nomes de nossos entes queridos, certamente em nosso coração veio a suave lembrança de seus rostos, palavras, gestos, de sua pessoa, dos tempos e momentos que vivemos juntos com eles, certamente as lágrimas até saltam em nossos olhares. Todavia a maior motivação que nos reúne aqui em oração não é primeiramente a saudade, mas a Esperança de que para eles a vida não foi tirada, mas transformada, porque cremos nas palavras de Jesus que disse: “Eu sou a Ressurreição e a vida, todo aquele que crê em mim, viverá eternamente”.

Muitas pessoas trazem dentro de si o medo da morte, pelo simples fato de pensar que a nossa vida caminha para o nada, que tudo termina aqui, e que não há mais nada a esperar, nem a se viver. Mas vejam, nós não fomos feitos eternamente para esta vida, diz-nos o texto sagrado: “O Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s); pois bem, fomos feitos para a vida imortal, desde o início, fomos feitos para a comunhão de amor com Deus, entretanto, por meio do pecado a morte entrou no mundo, por conseguinte, Deus não nos abandonou ao poder da morte, mas enviou o seu Filho que assumiu a nossa condição, experimentou a nossa morte, para nos dar a vida em plenitude. Deste modo, se cumpriu a profecia que escutamos na primeira leitura: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte, e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,8).

 Pelo batismo nós somos sepultados na morte com Cristo, e ressurgimos com Ele para uma vida nova, nos tornamos filhos de Deus e nos é dada a semente da vida eterna, a ponto de podermos dizer que o homem é na verdade um ser-para-a-vida. A segunda leitura nos mostra isso, quando S. Paulo nos diz: “somos filhos de Deus, e co-herdeiros de Cristo, e por isso chamados a participar da glória de Deus”. Portanto, a morte não é o nosso fim, mas é o nosso nascimento, podemos até dizer que a morte é a consumação de uma longa gestação, marcada pelos sofrimentos, dores, gemidos, lágrimas e angústias, na qual libertos deste corpo corruptível, vivemos com Deus uma união de amor, e nos é dado um corpo incorruptível, podemos até dizer como santo Agostinho: “Quando eu estiver unido a vós, nunca mais haverá dor, sofrimento, pois em vós minha vida é plena”. Ou ainda como Santa Teresinha do menino Jesus: “Eu Não morro, mas entro na Vida”.

Este dia de oração pelos que já partiram, deve também fazer com que olhemos para nossa vida, para saber que destino estamos trilhando, se estamos buscando a vida eterna, ou o inferno. Esta Vida com Deus, é como “um grande banquete de ricas iguarias” (Is 25,6), é o “Reino que Deus preparou como herança” (Mt 25,34) como nosso maior tesouro, onde nos é concedida a felicidade e a vida em plenitude, mas dele só participaremos se já aqui na terra nós aprendermos a amar a Deus, e a vivermos unidos a Ele, num amor ao próximo, como nos dizia o evangelho: “tive fome e me deste de comer, tive sede e me deste de beber, estava nu e me vestiste, estava doente e cuidaste de mim, estava preso e foste me visitar” (Mt 25, 35-36). Pois não pode estar unido ao Senhor no céu, experimentando a vida de ressuscitado, quem não esteve unido com Ele aqui na terra.
Portanto, neste sacrifício eucarístico rezemos pelos nossos fiéis defuntos que já partiram para a eternidade, e supliquemos que o Senhor Deus perdoe os seus pecados, purificando-os de suas faltas e fazendo-os experimentar a vida eterna, junto com os anjos e santos, e a Virgem Maria mãe de Deus, e que os santos no céu intercedam por nós que somos peregrinos neste mundo, para que entre as tribulações do mundo e as consolações de Deus mereçamos um dia gozar do prêmio da vida eterna. amém





sábado, 27 de outubro de 2012

"FILHO DE DAVI, JESUS, TEM COMPAIXÃO DE MIM, CONCEDE-ME QUE EU VEJA!"

Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste 30º domingo comum, nos chama a vivermos com Jesus um encontro entre a nossa pobreza e a sua riqueza, a nossa miséria e a sua misericórdia.

A primeira leitura (Jr 31,7-9) desta liturgia é um pequenino trecho do livro das consolações de Jeremias ao povo. Vejam, o povo de Deus é um povo pobre, “nele se encontram: cegos, aleijados, mulheres grávidas” (Jr 31,8), sua história é marcada pela dor, pelo sofrimento, pela escravidão. Quanta angústia! Quanta tristeza este povo não enfrentou! A ponto de seu coração brotar o grito suplicante: “Salva Senhor o teu povo” (Jr 31,7). Este povo, o Israel de Deus, somos nós, gente fraca, humilde que na estrada da vida derrama os prantos e as suas lágrimas. Todavia, somos encorajados pelo Senhor Deus que não nos abandona, que vem em nosso auxílio, nos tira da terra de nossos sofrimentos, e nos reúne junto dele, para nos conduzir às torrentes da felicidade, pelos caminhos retos da vida. Ele olha para a nossa miséria e nos enche com sua misericórdia.

O Evangelho (Mc 10, 46-52) de uma maneira toda especial nos revela este encontro de pobreza e riqueza, de miséria e misericórdia. É o encontro de Jesus com o cego Bartimeu.  Vejam, Jesus está se dirigindo para Jerusalém, rumo à sua paixão na cruz, vem caminhando com seus discípulos e uma numerosa multidão, e eis que passando por Jericó, às portas da cidade estava um cego, não sabemos o seu nome, somente que ele é filho de Timeu (Bartimeu), estava sentado à beira do caminho, mendigando.

Atenção! aos seguintes detalhes da vida deste cego, primeiro ele é um mendigo, um pedinte, um pobre, não somente de algo material, mas sobretudo, de uma vida feliz, de amor, de uma vida nova; a isso se refere também uma outra sua condição, ele está sentado à beira do caminho, típico de alguém que está à margem da vida, rejeitado, cansado, derrotado pelas dores, angústias e sofrimentos da vida. Este cego sem nome, indigente, é a imagem de cada um de nós, cegos pelas trevas de um mundo hostil a Deus, que pelas amarguras da vida, já não temos mais forças para caminhar, estagnamos na vida, vivemos mendigando uma vida maior, e feliz. Eis que quando, o cego ouve o alvoroço da grande multidão que passa, ele pergunta o que estava acontecendo, e dizem: “É Jesus o Nazareno que passa” (Mc 10,47). Ao escutar esta resposta do povo, logo vemos uma atitude surpreendente daquele cego, ele começa a gritar: “Filho de Davi, Jesus, tem compaixão de mim”! (Mc 10,48).

Reparem que coisa bela está por trás deste grito suplicante do cego, primeiro ele é um homem de fé, reconhece que aquele homem que passa na sua vida não é um qualquer, é o Filho de Davi, o Messias, o Ungido de Deus, o esperado das nações que viria para trazer a salvação aos homens, assim o chama de Jesus: O Deus salvador, só Ele poderia dar-lhe a vida nova. Por isso não perderia  a chance de encontrar-se com Ele. O grito do cego é um grito que parte da miséria de sua alma, de seu coração, o cego pede que ele tenha compaixão, tenha misericórdia dele. Quando a multidão ouve este grito de fé do cego, ela começa a repreendê-lo, pedindo-o que se calasse. Sim, a multidão, não crê que Jesus é Deus, é o Salvador, é aquele que vem curar as nossas feridas. É imagem do mundo pagão, e incrédulo em que vivemos que tenta calar o nosso grito de fé para com Jesus. Na verdade aquele cego vê mais do que a multidão, enquanto aquela via Jesus como um homem, o cego o vê como Deus, o Filho de Davi, o Messias.

O grito suplicante daquele cego não passou despercebido, adentraram pelos ouvidos e o coração de Jesus, de modo que Jesus para e manda chama-lo. Queridos irmãos, essa atitude de Jesus revela que ele não nos abandona, ele tem cuidado de nós, diante do alvoroço de nossa vida, do barulho de nosso mundo,  ele ouve nosso grito de clamor, cheio de dor e sofrimento, como ouviu o grito do cego. Portanto, os discípulos chamam aquele cego dizendo: “Coragem! Ele te chama. Levanta-te!” (Mc 10,49). Hoje estas palavras se tornam presentes na vida de cada um de nós,  vocês são estes cego, e o sacerdote é o discípulo que neste dia vem até você enviado por Jesus, para te conduzir até Ele, como um mediador, é esta a missão do sacerdote, que nos é revelada na segunda leitura (Hb 5,1-6): “Todo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus” (Hb 5,1). Sim, nós recebemos de Jesus à missão de tomarmos a vida sofrida de vocês e a levarmos a Cristo. Pois bem, ao escutar o convite dos discípulos, aquele cego deixa o manto, dá um pulo e vai até Jesus (Mc 10, 50). Que atitude surpreendente de Bartimeu, primeiro ele deixa o manto, era uma capa pesada feita de couro, na qual ele se protegia, era também o instrumento de sua vida, nele estava seu sustento, a sua segurança, era o seu tesouro, era tudo o que l tinha. Entretanto, ela também é sinal da vida antiga e velha, que ele agora deixa para trás, por isso dá um pulo, e vai até Jesus. Que coisa bonita! Quem de nós já viu um cego dando um salto, aqui é a atitude de um homem que de fato tem fé, que sabe em quem depositou a sua confiança, que reconhece que aquele que o chama é o próprio Deus.

Podemos nos perguntar: qual é o nosso manto pesado, sinal de nossa ínfima segurança ou tesouro, a riqueza que temos e nela encontramos como nosso maior bem, no qual temos que deixar porque ela ainda nos impede de ir ao encontro de Jesus? Reconhece que tu és pobre, fraco, e que tua força e riqueza é Jesus, deixa o que tens e vai ao encontro dele.

Tendo-o diante de si, Jesus lhe pergunta: que queres que eu te faça?. E o cego com toda fé diz: Meu mestre que eu veja! É como se aquele cego tivesse dito: que eu encontre a luz que ilumina a minha vida, que eu possa ver o caminho que me conduz à vida verdadeira. Jesus reconhece a humildade e a fé daquele homem, por isso o diz: Vai, a tua fé te salvou! Eis que a cura aconteceu, a vida nova foi dada aquele cego mendigo, sua miséria se encontrou com a misericórdia de Deus. E vejam que coisa interessante, depois de ter sido curado, aquele homem agora, deixa o seu caminho, o seu lugar, e segue Jesus no caminho, Ele quer agora trilhar os passos de Jesus, tornar-se seu discípulo. Que caminho é esse? É o dá cruz, nele encontramos a Luz verdadeira, nele encontramos nossa maior riqueza, pois é passando pelo coração aberto de Cristo na cruz, que adentraremos no céu, dá-nos força Senhor de caminharmos iluminados pela luz que vem de tua cruz. Assim Seja!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Fé na Ressurreição dos mortos segundo o Novo Testamento


            No Novo Testamento, sobretudo, pelos evangelhos sabemos havia uma certa divisão a cerca da crença na Ressurreição dos mortos, os saduceus negavam a ressurreição; os fariseus, ao invés a defendiam (Mc 12,18; At 23,6-8). Ao lado destas posições colocava-se Jesus que, com a sua ressurreição deu sentido a toda a realidade:
“Os túmulos se abriram e muitos corpos de santos ressuscitaram. Eles saíram dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos” (Mt 27,52s). É mister, observarmos que a realidade da morte e da ressurreição envolvem o Homem como um todo, por isso,  se formos partir de uma antropologia teológica bem fundamentada, vemos que o Homem encontra a sua razão de ser em Cristo, é Ele o Homem perfeito, de modo que, a salvação que o ser humano espera, não é outra senão a configuração com Cristo, ou seja, somos chamados a trazer em nós a imagem do homem celeste e espiritual. Todavia, isto só é possível ao homem, participando da ressurreição de Cristo, que uma vez ressuscitado como primícias, com seu corpo cheio do Espírito vivificador, pode doá-lo aos homens, e assim plenos do Espírito do Ressuscitado, teremos esta vida plena com Cristo.
            Então aqui já nos fica claro uma coisa: olhar a ressurreição a partir de Cristo e de modo individual. Isto já nos faz dar um salto na visão veterotestamentária que era coletiva. Cristo será a primícias do Mundo Novo, inaugurado pela sua gloriosa ressurreição. Portanto, é interessante  fazer uma distinção sobre a terminologia do Novo Testamento. Há dois modos de usar o termo “ressurreição”:

·      Em sentido neutro: como passo prévio ao juízo. Este não é o sentido teologicamente mais profundo;
·      Em sentido teologicamente positivo: como plena participação e configuração à vida de Cristo ressuscitado. Tal ressurreição é reservada somente aos bons. Este último sentido é o que realmente tem importância e faz parte essencial do kerygma; antes, é o seu próprio centro!

Por isso que a pregação de Jesus, ou para sermos mais precisos a sua presença no meio da história, já é a certeza de que o Reino não virá somente no fim de tudo, mas já agora na vida presente, então começa agora no hoje da vida para desembocar em plenitude total na Glória de Deus, no coração da Trindade.
            Em Cristo o ser humano já experimenta a vida eterna agora, basta que olhemos as palavras do próprio Jesus apresentadas pelo Quarto Evangelho: Na verdade eu vos digo: quem escuta minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não é condenado, mas passou da morte para a vida.  Na verdade eu vos digo: vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo 5,24s).
Estes mortos que São João fala em seu Evangelho, são os que estão no pecado e, por conseguinte, encontrarão a vida crendo em Jesus e escutando sua palavra. Entretanto, podemos entender também o caráter da ressurreição dos mortos, no final de tudo, naquilo que biblicamente conhecemos como o Último dia, diz o texto escriturístico: “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim. Este é o pão descido do céu. Não é como o pão que vossos pais comeram e, ainda assim, morreram. Quem come deste pão viverá eternamente” (Jo 6,54-58).
A ressurreição no Último Dia (também chamado Terceiro Dia) é, em certo sentido, antecipada e mudada em seu sentido, com Jesus: ele mesmo é a vida, é a ressurreição que ilumina a ressurreição final - esta última recebe de Cristo o seu sentido e normatividade! Portanto, aparece claramente em João uma perspectiva de presente ligada àquela de futuro.
Indo mais adiante na visão neotestamentária de ressurreição, a mesma perspectiva está presente também em Paulo: para ele, o Batismo é já uma verdadeira participação, um verdadeiro mergulho (= batismo) na morte e ressurreição do Senhor.
Na carta aos tessalonicenses aparece uma ideia de Ressurreição enquanto participação na parusia. Vejamos que os tessalônicos confusos pela morte de vários membros da Comunidade antes da Parusia, e crentes numa parusia iminente começam a se questionar sobre o que irá acontecer com aqueles que morrerem antes da vinda do Senhor. Portanto, Paulo explica que os vivos não precederão os mortos. Note-se o quanto é marcante a primazia da ressurreição de todos e numa perspectiva de Parusia: ressuscitar é participar da Glória do Ressuscitado quando da sua Manifestação! Observemos o texto da carta aos tessalonicenses:
“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para não vos entristecerdes, como os outros homens, que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morrerem. Eis o que vos declaramos conforme a palavra do Senhor: nós, que ficamos ainda vivos, não precederemos os mortos na vinda do Senhor.  Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os vivos, que estamos ainda na terra, seremos arrebatados juntamente com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares. Assim estaremos sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”. (1Ts 4,13-18).
Na carta aos coríntios São Paulo nos apresenta a questão da ressurreição corporal, acompanhemos o texto:  “Ora, se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é então que dizem alguns de vós que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos também Cristo não ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã nossa pregação e vã vossa fé. Seremos também falsas testemunhas de Deus, porque contra Deus afirmamos que ele ressuscitou Cristo dos mortos, a quem não teria ressuscitado, visto que os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vã é vossa fé, e ainda estais em pecado. E até os que em Cristo morreram, pereceram. Se só temos esperança em Cristo para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas na verdade Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morrem. Com efeito, assim como por um homem veio a morte, assim também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo, em seguida os que forem de Cristo por ocasião de sua vinda. Depois será o fim, quando entregar o reino a Deus Pai, após haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação. Porque é necessário que ele reine até pôr todos os inimigos debaixo de seus pés. O último inimigo reduzido a nada será a morte, pois ele pôs todas as coisas debaixo dos pés”. (1Cor 15, 12-27).
Façamos algumas observações a cerca desta concepção paulina em oposição aos coríntios: os coríntios pensam que a ressurreição já aconteceu numa dimensão apenas espiritual. Por isso, vivem no entusiasmo... Paulo, fundado na ressurreição de Cristo, insiste muito fortemente na importância do kerygma, que é a ressurreição de Jesus, à qual se une a ressurreição dos mortos.
Diante deste kerygma, põe-se a questão: como podem os coríntios dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou! Parece que o Apóstolo coloca a ressurreição de Cristo como um caso num contexto geral. Mas não é assim: ele se coloca na posição do adversário. Não se pode pensar numa ressurreição geral prévia à ressurreição de Jesus. O raciocínio dos coríntios possui dupla contradição:

1.    negando a ressurreição, negam a de Cristo: se não há ressurreição, Cristo não ressuscitou e a fé cristã é vã.
2.    se não há ressurreição, nega-se qualquer esperança para os que morreram e o cristão é o mais miserável dos homens.
A vida, portanto, não procede de um princípio antropológico, mas vem do próprio Deus. Para Paulo o que interessa é o homem inserido no mistério da salvação, mistério de Cristo, o homem chamado à plenitude de Cristo! Note-se também que Paulo não quer identificar Cristo com o Espírito Santo, mas sublinhar que Cristo, pela sua ressurreição, está plenamente “espirituado” e torna-se doador e fonte do Espírito! Como há um corpo terreno, também há um corpo celeste. O primeiro Adão vem da terra, é psíquico, possuidor de uma vida biológica e racional (dotado, portando de uma alma incorruptível, porque imaterial), o segundo Adão vem do céu, é “espirituado” (seu princípio vital é o Espírito de Deus, que reveste de vida divina seu corpo e sua alma, dotando-os da imortalidade que é característica do próprio Deus). Assim como agora levamos a imagem do homem terreno, levaremos na ressurreição a imagem do celeste, Jesus ressuscitado! Assim, à questão fenomenológica, Paulo responde teológica e cristologicamente!
Um último ponto a ser destacado é: Há ainda uma explicação que o Apóstolo apresenta à questão “como ressuscitam os mortos?”
A resposta somente pode ser uma: os mortos ressuscitam como Jesus! O problema tratado aqui é relacionado com a espera de uma Parusia eminente: como os vivos por ocasião da chegada do Senhor revestiriam um corpo de glória? Paulo afirma que ainda que todos não morram, todos serão transformados, de modo que haverá uma ruptura entre a nossa situação presente e a nossa situação futura! É a mesma idéia de 2Cor 5,1-5, onde o Apóstolo insiste na necessidade de revestir o corpo celeste. Não se trata, portanto, de libertar-se do corpo, mas de vê-lo transformado segundo Cristo! A ressurreição dos mortos é participação na vida do Cristo ressuscitado, doador do Espírito, “Senhor que dá Vida”!