quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Adoro te Devote - Meditações Eucarísticas

Caros amigos santa paz para vós, continuamos nossas meditações eucarísticas, a partir do hino Adoro te Devote, como temos feito em algumas quintas-feiras, hoje nos lançaremos com o coração e fé ardente sobre a 6ª estrofe, a penúltima que reza assim:


Pie pellicanae, Iesu Domine
Me imundum munda tuo sanguine
Cuiús uma stilla salvum facere
Totum mundum quita b omni scelere


Senhor Jesus, terno pelicano,
Lava-me a mim, imundo com teu sangue
Do qual uma só gota já pode
Salvar o mundo de todos os pecados


Nossa meditação de hoje, faz-nos mergulhar no valor precioso e salvífico do Sangue de Cristo numa unidade íntima com o sacrossanto Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, digo unidade, porque, embora, compreendamos que a oferta sacrifical de Jesus na véspera de sua paixão, foi dar aos seus: o Seu corpo e o seu sangue como alimentos, e isto não resta dúvidas. Muitos, não dão a devida importância ao sangue de Cristo, pensam que na Eucaristia ele é um apêndice do Corpo; muitos até se perguntam o por que dos sacerdotes não darem a comunhão sob as duas espécies em todas as missas, e por não haver um culto eucarístico do sangue fora da missa. Vejam, só para recordarmos o que já falamos em outras reflexões, esta unidade existente entre Corpo e Sangue na Eucaristia, chama-se concomitância, em palavras simples, se você recebe a comunhão sob uma única espécie, saiba que com ela está a outra, com o corpo está o sangue, e com o sangue está o corpo. Feita esta consideração inicial, vemos a importância que deve ser dada também ao sangue precioso de Cristo, pois a oferta de Jesus foi total e não separada, com regateios, basta recordarmos o discurso na sinagoga de cafarnaum: “Se não comerdes da carne do Filho do Homem, e não beberdes do seu sangue, não tereis a vida em vós, pois, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida” (Jo 6,53. 55). Os padres da Igreja já testemunhavam a importância do Sangue de Cristo, Sto. Inácio de Antioquia dizia: “Quero como bebida o sangue que é amor incorruptível”.

Pois, bem, nesta estrofe Jesus é simbolizado pelo pelicano, uma ave que como diz a lenda, ela abria com o seu bico, uma ferida em seu próprio corpo, e dali alimentava os seus filhotes com sua própria carne, e também com seu sangue, interessante que quando os seus filhotes estavam mortos, ela ao se bicar, gotejada sangue, e este sangue despertava da morte os seus filhotes. Reparem, quanta piedade daquela ave, que amor pelos seus filhos, verdadeiramente dava de sua vida para que eles tivessem vida, por isso que lhe foi dado o adjetivo de “Pio”, o Pio Pelicano. São joão Crisóstomo já nos dizia: “Do mesmo modo que a mulher alimenta aquele que ela gerou com seu próprio leite, assim também Cristo alimenta continuamente com o seu sangue aquele que ele próprio gerou”.  Jesus é este Pio Pelicano que ofertou na ultima ceia o seu preciosíssimo sangue  para a salvação do mundo, e que no getsêmani, derramou espessas gotas ao sofrer o pavor do pecado, aquelas gotas já caídas sobre o solo do jardim do getsêmani, prenunciavam que em outro jardim, o do Calvário, o Rebento de Davi, a Videira iria derramar o vinho novo da salvação, o seu próprio sangue para redimir toda a humanidade.
Do sangue de Jesus basta uma só gota como nos diz o hino, para nos salvar e nos redimir de nossos pecados, por que? Porque este sangue não é derramado por uma pessoa qualquer, mas pelo Filho Unigênito de Deus, o Sangue ofertado na última ceia, derramado em sacrifício no calvário, é o Sangue do Deus feito homem, ele se fez vítima de expiação pelos nossos pecados.  O sangue na sagrada Escritura é sinal de vida, lembremo-nos dos ritos de aspersão de sangue quando se sacrificava alguma vítima, o sangue ao tocar a pessoa, lhe comunicava a purificação, a vida, e a participação na vida divina. Em Jesus esse sinal veterotestamentário encontra seu sentido pleno, o sangue de Jesus nos lava por inteiro, num sacrifício que não precisa ser repetido constantemente, não no seu único sacrifício já nos banhou por inteiro; depois, agora o povo santo de Deus pode beber do sangue, a vida de Deus permanece em nós. Jesus é o Verdadeiro e Definitivo Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo, no ato de abrir com a lança o lado de Jesus, podemos nos reportar ao costume judaico de na hora de sacrificar o cordeiro se deveria esvaziá-lo de todo o seu sangue, Jesus na ara da cruz derramou todo o seu sangue para tirar os nossos pecados. A mãe Igreja canta esta verdade na noite santa da vigília pascal: “para apagar o antigo documento na cruz todo o seu sangue derramou”.

Pelo seu sangue derramado, Jesus nos deu a vida em plenitude, é ele o sacerdote que se faz vítima, e num único sacrifício vencendo a morte deu-nos a vida, em obediência ao seu Deus e Pai, entregou-se inteiramente à morte para expiar os nossos pecados, uma expiação e amor, e é este amor que explica o porque daquele inocente abraçar o sofrimento até a morte, se entregou derramando seu sangue porque Ama o Pai, e ama a humanidade, não há maior e profunda prova de amor do que aquele que dá a vida pelos seus. Este amor é também da parte de Deus Pai, diz-nos Sto. Tomás de Aquino: “O Pai entregou o Filho à morte enquanto lhe inspirou a vontade de sofrer por nós, infundindo-lhe o amor”.

Que mistério de amor profundo, é este do sacrifício de Cristo, ao que não era digno de amor, Deus amou sem reservas, a paixão de Cristo como nos diz Frei Raniero Cantalamessa: “é uma paixão de amor que levou Jesus à cruz”, ou ainda como assevera o grande teólogo Von Balthasar: “é o amor louco de Deus, expresso na imutável, mutabilidade do amor”. Deus se fez nada para que o homem seja tudo nele.

Neste sacrifício de Cristo o qual o tornamos presente em cada Missa somos regenerados sempre de novo, podemos dar graças a Deus por nos ter oferecido tão grande dádiva. São Bernardo nos mostra isso de forma muito simples e profunda: “Deus Pai não exigiu o sangue do Filho, apenas aceitou que lhe fosse oferecido; não tinha sede daquele sangue, mas de nossa salvação, que residia naquele sangue”. Então em cada Eucaristia ao adorarmos e comungarmos o sangue de Cristo, as chagas de nosso coração, nossos sofrimentos, dores, angústias, são curadas. Chegamos diante de Jesus imundos, sujos e ao bebermos da fonte da Vida, somos lavados, banhados, purificados pelo sangue do Cordeiro que lava as vestes sujas pelo pecado e nos torna brancos como a neve. Somos inebriados, embriagados espiritualmente por este sangue.



Termino de forma orante com um trecho de um antigo hino eucarístico entoado por P. Claudel:


Pio Pelicano, que diante de nossos olhos sofres a tua crucificação,
Servido pelos anjos em pranto que guardam cálice e patena,
Abre-nos a porta de teu flanco como o centurião,
Para que tenhamos acesso a ti e possamos unir
A nossa natureza à tua Hipóstase.



     

2 comentários:

  1. Oi Irmão! Estava procurando o pelicano e sua relação com o Cristo e encontrei seu blog... de fato, é um mistério! Que bom vê-lo meditando os santos mistérios!!! Abcs

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  2. também me perguntava sobre esse assunto.... obrigado!

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