sábado, 29 de setembro de 2012

CORTAI A MALDADE EM TI, E NÃO OS OUTROS

Queridos irmãos e irmãs a liturgia deste 26º domingo do tempo comum nos chama a abandonarmos o ciúme que existe dentro de nós para com aqueles que também fazem o bem, mesmo que no caminho de fé não estejam conosco. Vejam, a primeira leitura vemos a atitude ciumenta de Josué que pede a Moisés que proíba aqueles dois anciãos de profetizar, de fazer o bem porque eles não estavam na tenda da reunião para receber do Espírito dado por Deus; Moisés poderia ter aceitado a proposta de Josué, uma vez que ele foi o homem escolhido por Deus para libertar e guiar o povo da escravidão à terra prometida, de modo que Deus o dotou de sua força, o encheu do Espírito Santo, mas a atitude de Moisés é de alguém que não tem ciúme, que não quer monopolizar a ação de Deus. Aqueles dois anciãos, todavia, mesmo sem estarem lá eles perseveram profetizando “e eles profetizavam no acampamento” (Nm 11,26), diferente dos outros anciãos que estavam na tenda e que “começaram a profetizar mas não continuaram” (Nm 11,25). A atitude daquele jovem é a de alguém que quer ter Deus como propriedade exclusiva, quer monopolizar a ação de Deus, quando na verdade o Espírito sopra onde quer. Muitas vezes amados irmãos nós achamos que só nós somos os melhores, que Deus só age em nós, e não em outros.

O Evangelho nos insere dentro deste mesmo contexto, de alguém que precisa ser curado do ciúme que o faz quere monopolizar a ação de Deus. Reparem, a dois domingos o Senhor no seu caminho para Jerusalém vem catequizando os seus discípulos, deseja tirar-lhes a mentalidade mundana que eles possuem, para dar-lhes uma nova mentalidade, o próprio Jesus disse a Pedro: tu não pensas as coisas de Deus, mas pensas as coisas dos homens” (Mc 8,33). E nós vimos as diversas atitudes humanas e egoístas dos discípulos. Hoje vemos a atitude ciumenta de João, que vê um homem exorcizando alguém em nome de Jesus, ou seja, praticando o bem e o proibiu. Parece ilógico, que alguém proíba outro de fazer o bem. Esta atitude de João revela o ciúme que está dentro de seu coração que ainda não se converteu para aderir ao Reino. Neste mesmo capítulo 9 do Evangelho de Marcos, mais precisamente 9,14-29 (a cura do endemoninhado epilético) os discípulos não conseguiram expulsar o demônio que atormentava aquele menino. No evangelho de hoje aparece um homem que nem é discípulo de Jesus, mas em nome de Jesus consegue expulsar demônios, certamente João fica enciumado, sente-se frustrado, fica com inveja e prepotência, atitude própria de alguém que caminha com Jesus, mas que não pensa o pensar de Jesus, e proíbe aquele homem; mas Jesus lhe dá a resposta: “não o proibais, ninguém faz milagres em meu nome para depois falar de mim, quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9,39).

Jesus mostra a João que como é possível combater alguém que está realizando o bem, está conduzindo a outros no caminho da verdade e da vida nova, livre de toda maldade, alguém que combate a mal, o demônio. Aquele homem reúne as pessoas para o lado do bem, por isso está com Jesus. Na verdade Jesus quer mostrar a João, que mas do que saber quem deve exorcizar, ele quer mostrar o que ele, e hoje nós deveremos exorcizar dentro de nós mesmos, ou seja, lutar com a maldade que está dentro dele e de nós mesmos. Portanto, o que deveria ser combatido era a maldade orgulhosa, invejosa, prepotente e ciumenta que existia no coração do discípulo, é isso que deve ser combatido para que o discípulo possa caminhar com passos firmes e com o coração ardente nos caminhos do Mestre, é preciso romper com a maldade, com o reino de satanás que serve de pedra de tropeço, de obstáculo em nossa vida, daí o que significa escândalo = tropeço, obstáculo. Por isso que Jesus adverte aos discípulos: “Se tua mão, teu pé, teu olho  te leva a pecar (te escandaliza), corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, pés, dos olhos do que, tendo as duas, os dois ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. É preciso retirar as pedras de tropeços existentes em nós, o verdadeiro mal a ser combatido, que me faz apontar os erros alheios, a tomar o que não é nosso, que me faz caminhar nos caminhos que não são os de Deus, a olhar com inveja, ciúme, rancor, raiva. Então, antes de combatermos os outros que muitas vezes fazem o bem, combatamos o mal que existe em nós, para que não aconteça de que não retirando estas pedras de tropeço que nos fazem pecar, venhamos a cair no vale da podridão, o inferno. Que em nosso coração estejam aquelas palavras do salmista: “preservai o vosso servo do orgulho:/ não domine sobre mim!/ E assim, puro, eu serei preservado/ dos delitos mais perversos”. Que assim seja!

sábado, 22 de setembro de 2012

O CAMINHO DA CRUZ É O CAMINHO DA PEQUENEZ.

Queridos irmãos e irmãs, celebrando este XXV Domingo do Tempo Comum, o Senhor Jesus nos apresenta mais uma vez o caminho da cruz, como sentido pleno da vida do cristão, porque, ser cristão é trilhar o caminho da paixão e da cruz. E hoje somos chamados a aprender a sermos humildes, pequenos e servos com Cristo.

O Evangelho de Marcos lido nesta liturgia nos apresenta o segundo anúncio da paixão que Jesus deverá enfrentar. Pois bem, Jesus vai caminhando com seus discípulos com passos firmes rumo a Jerusalém, e vai mostrando-lhes e ensinando-lhes o caminho  da paixão, da cruz que Ele deveria sofrer, assim diz: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”.  Ou seja, Ele vai pondo no coração dos discípulos e hoje em nossos corações, a firme certeza, de que não há outro caminho para entrar na glória senão abraçando a cruz cotidiana. É importante ressaltar que aqui Ele se identifica com aquele Justo Filho de Deus o qual vimos na 1ª leitura, “Armemos ciladas ao justo... porque sua presença nos incomoda ...Vamos pô-lo à prova com ofensas e torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência; 20vamos condená-lo à morte vergonhosa.

Ao ouvirem estas palavras os discípulos não entendem, ou seja, não aceitam que o Messias tenha que enfrentar a cruz, tenha que morrer, uma vez que é forte e poderoso. Na mentalidade deles está um messianismo de grandeza, de sucesso e de glória; por isso que ao ouvirem as palavras de Jesus eles ficaram: com medo e calados, mas também diz-nos o evangelista Mateus que eles ficaram: “profundamente tristes” (Mt 17,23). Essa tristeza e silêncio dos discípulos é o sentimento de alguém que quer a glória, quer o céu, quer entrar no Reino da vida plena, mas sem enfrentar o sofrimento da cruz. Somos nós muitas vezes, queremos seguir Jesus sem carregarmos a nossa cruz, sem enfrentarmos as tribulações da vida, daí seguimos outras pessoas, os gurus desta vida que prometem facilidades, como dir macedo, RR soares, Valdemiro santiago, pronto! mas não Jesus, desejamos as vantangens da vida, e do Reino de Deus, mas sem enfrentar a dor, estamos querendo viver um cristianismo light, sem cruz.

Mas este sentimento de fuga da cruz, por parte dos discípulos é ainda maior, vejamos: quando Jesus chega em casa com Eles lhes faz a seguinte pergunta: “o que ias discutindo pelo caminho?”, eles ficaram calados, porque sabiam que seria vergonhoso dizer ao mestre tal sentimento de repugnância pela cruz, pois vinham discutindo quem dentre Eles seria o maior. Primeiro aqui podemos ver o quão distante e dissociado se encontrava o pensamento, o coração dos discípulos em relação a Jesus. Enquanto, o Senhor com sabedoria do alto lhes indicava o caminho da humilhação, do serviço, da doação por amor, de suportar com coragem os tormentos da cruz, de pôr o dom da vida a serviço; os discípulos pelo contrário, com uma sabedoria meramente humana, impregnada de presunção, pensavam no poder, na glória, nas vantagens, nos privilégios, nos altos postos da vida. Todos estes males, tudo isso é fruto das paixões desordenadas que existem no coração humano. É a imagem bem relatada por São Tiago na segunda leitura de hoje: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más... De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós?”.

Estas palavras valem para nós nos dias de hoje, primeiro dizemos que seguimos o Senhor, mas o caminho de nossa vida tem sido em diversas ocasiões bem diferente do dele. Depois, quantas vezes nós em nossas comunidades, trabalhos, estudos, buscamos ser maiores e melhores que os outros, edificamos nossos pedestais, num ar de superioridade, de prepotência, nos deixamos levar pela inveja e criamos determinadas rivalidades entre nós, não podemos esquecer que se nossa presunção nos leva a estarmos no alto, cuidado! o tombo pode ser grande. Todavia, nós como cristãos e cristãs, discípulos de Cristo não deveremos agir assim, a atitude do cristão é de alguém que cresce, mas na humildade,  no serviço, pois os humilhados de Deus, logo serão exaltados.

Pois bem, Jesus ao ter conhecimento destas palavras, começa a ensinar aos seus, qual deve ser a verdadeira atitude do discípulo, e vejam o que o  texto sagrado diz: que Jesus ensinou-lhes: “em casa” (v.33), ou seja, na intimidade com Ele, estando a sós, olhos nos olhos. E mais, diz-nos que Jesus “estava sentado” (v.35) típico de um Mestre, ou melhor, daquele que é o Único e Verdadeiro Mestre, que não engana e que conduzirá os seus no caminho da vida plena e verdadeira. Hoje esta palavra se torna viva em nós. Somos nós amados irmãos e irmãs que aqui estamos na Casa do Senhor, nesta Igreja, casa de oração, para na intimidade com Ele, escutarmos as suas palavras, experimentarmos seus sentimentos e para aprender dele a vida nova que ele quer nos comunicar. Então, Jesus, outrora mostrou aos discípulos e hoje mostra a nós qual deve ser a nossa atitude:  disse-lhes: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”.

Vejam, se é verdade que nós queremos ser os primeiros na vida, ou seja, queremos experimentar a glória, e isso é digno de fé, porque o Senhor revela isso, ao nos dizer: “quem quiser ser o primeiro”, é mais verdade ainda que para tanto, e esta é a condição, nós deveremos  ser servos uns dos outros, pensar em nós, pensando no outro, ou seja, ser humildes, ser servos, ser pequenos, como o próprio Senhor Jesus assim se fez, Ele veio e está em nosso meio como aquele que serve, como aquele que veio servir e dar a vida em resgate por muitos. Eis o caminho trilhado pelo Senhor! só experimenta a glória quem se faz pequeno.

Por isso o Senhor como exemplo vivo põe em seus braços e no meio dos discípulos uma CRIANÇA, que era sinal de  debilidade, fragilidade, daqueles que eram insignificantes, mas também sinal de pequenez de coração e de humildade verdadeira. Esta criança é imagem de Jesus, “quem acolher em meu nome está criança, é a mim que está acolhendo”. Sim, Jesus foi aquele que se fez vulnerável, Ele sendo o primeiro (Deus), se fez último (criança/ servo), se fez fraco para que enfrentando a cruz, se doando livremente por amor a nós, pudesse ser de novo e eternamente o primeiro (Ressuscitado - primícias da vida nova). A criança representa também todos os pequeninos de Deus que deveremos acolher e servir, os pobres, os órfãos, os drogados, as prostitutas, enfim, todos aqueles que sofrem. Por fim, esta criança, deverá ser cada um de nós, deveremos ter um coração dócil, cheio de amor, cheio de simplicidade, sermos simples, humildes, ser pequenos como Cristo.

Que este seja nosso desejo, e que sejamos fortalecidos por está frágil hóstia, que receberemos em nossas mãos e em nossos lábios, a vida do Senhor que se fez pequeno na encarnação, veio aos nossos pés e que agora vem em nosso interior. Amém.

sábado, 15 de setembro de 2012

No caminho de nossas vidas, o Senhor nos diz que o caminho dele é o caminho da cruz.

Caríssimos irmãos e irmãs, estamos no XXIV domingo do Tempo comum, reunidos para celebrar os divinos mistérios de Nosso Senhor Jesus Cristo, na liturgia de hoje, somos chamados a redescobrir quem verdadeiramente é Jesus, e sua missão em nosso meio, e o caminho que deveremos seguir.

Vejam queridos irmãos, num determinado momento da vida, fomos chamados por Deus, para caminharmos com Ele, entretanto, nós, seus discípulos, corremos o grande risco de nesta caminhada, não sabermos quem deveras é Jesus. Pois bem, o evangelho nos diz que Jesus partiu com seus discípulos, e no caminho perguntou a eles: “quem dizem os homens que eu Sou? E eles responderam: alguns dizem que tu és João Batista, outros que és Elias, outros ainda que és algum dos profetas. E vós quem dizeis que eu Sou?”. Ou seja, aqui existe algo muito revelador, no caminho, na estrada da vida, no itinerário da vida dos discípulos e hoje no caminho de nossas vidas o Senhor Jesus nos faz esta pergunta: e Vós quem dizeis que eu Sou?

Pedro logo dá a resposta: “Tu és o Messias!” a afirmação de Pedro em partes está correta, sim Jesus é deveras, o ungido de Deus, aquele que veio para salvar a humanidade com poder e braço forte; certamente na mentalidade de Pedro, e  dos discípulos, e pode ser que hoje de cada um de nós, seja a de ver Jesus como um Messias poderoso, mas que veio para destruir tudo, ou um messias político, revolucionário, ou até como muitos pensam um milagreiro. Todavia, Jesus é mais que isso, por isso proíbe severamente que os discípulos falem algo a seu respeito, isto porque Ele mais do que aquilo que eles sabiam. Ele é o Messias, mas de uma forma diferente, seu poder é manifestado na fraqueza, ele vem como servo sofredor, como filho do homem, como aquele que vem para experimentar a cruz, os tormentos, as humilhações, rejeições, injúrias, enfim vem para enfrentar o sofrimento. Por isso ele apresenta aos discípulos o seu messianismo, dizendo: “31Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias.  

Jesus, se identifica de forma muito clara com aquele Servo sofredor da primeira leitura, que Isaías falava para cada um de nós, o homem das dores que sofre livremente os tormentos da vida, é maltratado, torturado, esmagado  
em extremo por amor a Deus e à humanidade. É este o messianismo de Jesus, passa pela morte, pela cruz. E o interessante é que sobre isso Jesus fala abertamente, assim diz-nos o evangelho: 32Ele dizia isso abertamente”, em outras ocasiões e até no Evangelho de hoje Jesus proibia que as pessoas falassem que Ele era o Messias, hoje Ele faz o contrário, fala abertamente, com vigor, com parresia, ou seja, é o caminho da cruz, que para ele não é opcional, mas faz parte de sua missão, por isso ele disse: o Filho do homem, devia sofrer. Vejam, isso vale muito para nós, só poderemos anunciar a Cristo se tivermos consciência de que tudo passa pela cruz, sem a cruz, não é possível falar sore Jesus, ou até falamos, mas aí é outro e não o Verdadeiro Ungido de Deus.

Pedro quando escuta esta palavra de Jesus, logo as renega, porque ele não aceita que o Messias tenha que passar pela cruz, pelo sofrimento, logo diz-nos o Evangelho: “Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo” (Mc 8,32). Aqui não aparecem as palavras que Pedro utilizou, mas o evangelista Mateus nos diz: “Deus não te permita senhor, isso jamais te acontecerá” (Mt 16,22). Reparem que ousadia de Pedro, repreende o Senhor, quer impedi-lo de enfrentar o caminho da cruz, ele quer ser o mestre, quer dizer que rumo Jesus deve seguir, faz de Jesus seu discípulo.

Nós muitas vezes queremos crer e seguir a Jesus sem a cruz, sem passarmos pelos sofrimentos, o mundo de hoje, tão marcado pelo comodismo, tem nos levado a isso, e logo abandonamos o Senhor.  Todavia, Jesus mostra para Pedro que só há um Mestre, e é o próprio Jesus, por isso repreende-o duramente: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”. Estas palavras duras de Jesus estão cheias da verdade que o discípulo precisa conhecer, nelas o Senhor mostra para Pedro e para nós qual o lugar que nós deveremos ocupar no seguimento a Jesus. Vejam, esta palavra de Jesus não é somente vai para longe, ou afasta-se, elas indicam submissão, ou ao pé da letra quer dizer: para trás de mim. É como se Jesus estivesse dizendo a Pedro; sai da minha frente, para de ser uma pedra de tropeço querendo me derrubar, podemos ver isto no evangelho de São Mateus, quando neste mesmo evangelho aparece esta expressão: “tu me serve de pedra de tropeço” (Mt 16,23).

O lugar do discípulo é atrás do Mestre, seguindo as pegadas deixadas por Ele, é Ele quem mostra, quem guia no caminho da vida, se somos seus discípulos deveremos entregar a Ele nosso destino, nossa vida já não nos pertence mais. Por isso que Jesus olha para a multidão e para os discípulos e os interroga, para saber se eles estão dispostos a segui-lo, se eles querem trilhar o caminho da paixão: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.  Sim, seguir a Jesus é primeiro ir após Ele, é este o nosso lugar, depois é preciso morrer, largar nossas pretensões ambiciosas e mesquinhas, a tua prepotência, teu orgulho, tua vaidade, toma a cruz, toma a minha história e siga-me.

Ter fé, crer em Jesus como escutamos na segunda leitura de S. Tiago é ser capaz de entregar a Ele o rumo de nossa vida, não ter medo de carregar a cruz. É a fé que se traduz em obras, ou seja, na vida que confia que Deus é o nosso auxiliador, assim como o Servo da primeira leitura que disse:Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?” (Is 50,9). No caminho de nossas vidas, o Senhor nos diz que o caminho dele é o caminho da cruz. Assim seja!.


domingo, 9 de setembro de 2012

ROMPE SENHOR A MINHA SURDEZ

Caros irmãos e irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo, a liturgia deste domingo nos convida a reconhecermos a nossa pobreza, e a riqueza da salvação que Deus em Jesus quer nos conceder. Em verdade nós somos pobres, indigentes, mas a alegria que salta em nossos corações é que “Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé” (Tg 2,5).

Na primeira leitura nós encontramos uma palavra de esperança de Deus para o povo de Israel, sofrido, pobre, atribulado, e esta palavra vale para cada um de nós: “criai ânimo, não tenhais medo o vosso Deus vem para vos salvar” (Is 35,4). Esta palavra se cumpriu, Deus veio ao nosso encontro em Jesus, veio para nos enriquecer, veio para abrir os nossos ouvidos para escutarmos à sua voz, e para desatar as nossas línguas para anunciarmos a sua palavra, veio para nos enriquecer com sua vida de graça.

O Evangelho de hoje, nos mostra essa realidade, é o encontro de Jesus com um homem pagão, surdo e gago. Homem discriminado, renegado, rejeitado, que vivia fora de qualquer comunhão com as pessoas, é um indigente. Este homem é imagem de cada um de nós, da humanidade; sim, somos nós que podemos até ser cristãos, mas nos comportamos como pagãos, como pessoas que se fecham para ouvir a voz de Deus, e passam a ouvir unicamente a voz do mundo, dos ídolos, dos deuses falsos,  e como bem sabemos o barulho do mundo, o seu grito ensurdecedor nos impede de escutar a Deus. E porque não escutamos a palavra, a voz de Deus, de nossos lábios só saem palavras de maldade, de discriminação, de falsidade, de egoísmo, porque o mundo nos emudece, nos deixa gagos, sem sabermos falar palavras de verdade.

Pois bem, trouxeram a Jesus um pagão surdo-gago, pedindo que Jesus lhe impusesse às mãos, que de certa forma abençoasse aquele pobre homem, por conseguinte, Jesus quer dar-lhe mais, quer dar a sua vida, quer fazê-lo um homem de fé, quer dar-lhe a dignidade de vida, ou melhor, quer transformar a sua vida, a partir de um encontro íntimo e pessoal, olhos nos olhos, por isso que Jesus o arranca do meio da multidão, do alvoroço das pessoas. Aqui se revela algo muito belo, este retirar o homem para um lugar à parte, a sós com ele, indica que é somente saindo do alvoroço da vida que conseguiremos escutar a voz de Deus, recuperar a capacidade de ouvir. Mas também, revela que Jesus não é um milagreiro, não é um taumaturgo, não quer fazer show, ou espetáculo, como muitos dos gurus, dos “pastores” pentecostais fazem. Jesus quer lhes comunicar a Boa- Nova do Reino de Deus, quer com que cada ser humano experimente em sua vida o dom da graça de Deus.

Pois bem, Jesus se aproxima do homem,  e  o toca, sim Jesus quer sentir a dor que massacra aquele homem, coloca os dedos em seus ouvidos, o dedo indica a força, o poder de Deus, e é um dos símbolos do Espírito Santo; em seguida o Senhor põe um pouco de sua saliva e toca a língua do homem, a saliva tinha um poder curador, e era também sinal do Espírito Santo. Depois, Jesus olha para o céu, este gesto orante, revela que é do Pai que procede toda graça, é Ele a fonte donde emana a vida nova; Jesus também geme, suspira, aqui é sinal do sentir compaixão, do assumir as misérias do surdo-gago, naquele gemido esta toda dor, todo pranto que massacrava o pobre homem. Deus em Jesus vem tocar a nossa limitação, nossas dores e sofrimentos, e nos convidar para receber a Vida de graça, é neste contexto que Jesus pronuncia as divinas palavras: Efatá, abre-te! Que convite Jesus faz aquele homem, e hoje faz a cada um de nós. Ao tocar com seu dedo os ouvidos daquele surdo Jesus rompe a surdez, de modo que agora aquele homem pode não somente ouvir a voz dos que lhe cercam, de estabelecer relações com ele, mas, sobretudo, pode ouvir a voz de Deus; depois o pôr a saliva na língua do gago, era como se Jesus estivesse colocando as suas palavras na boca dele, pois a Palavra de Deus é viva e eficaz, para que agora ele pudesse pronunciar palavras de verdade, de amor, de vida plena, agora ele pode cantar os louvores, bendizer o nome santo do Senhor. Deveras este encontro do homem com Jesus, é o encontro do Surdo com aquele que é a Palavra Eterna do Pai. Jesus transmite a fé aquele que era pagão.

Este convite de Jesus: abre-te! deve passar também ao coração, a todo ser daquele homem, e também ao nosso ser, a cada um de nós, deveremos romper com o fechamento de nosso coração, e nos abrir para escutarmos a voz de Deus, a sairmos do nosso mundinho, para entrarmos no mundo de Deus; desta forma, seremos novas criaturas, porque nos deixamos ser recriados pelo Senhor.

Deixai amados irmãos e irmãs que o Senhor rompa a surdez de vossos corações, causada pelas vozes ensurdecedoras deste mundo, escutai a voz de Jesus, que pela Eucaristia que receberás em teus lábios, seja o toque da vida de Deus que perpassará a tua alma, e pela escuta da Palavra de Deus, os teus ouvidos se abram para se deixar conduzir pela voz do próprio Deus.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O ESPOSO ESTÁ EM NOSSO MEIO, PROVEMOS DE SEU VINHO NOVO

Uma pequenina reflexão sobre umas das partes do Evangelho de hoje:

"os fariseus e os mestres da Lei disseram a Jesus: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações. Mas os teus discípulos comem e bebem”.

Mais um ataque dos fariseus entrando em controvérsia com Jesus. Primeiro, os discípulos de Jesus, os cristãos, são chamados a viver a novidade trazida por Jesus, o que torna pleno todos os costumes e leis do judaísmo, Ele não veio para abolir a Lei, mas para dar pleno cumprimento. Então, por que os discípulos de Jesus não jejuavam?  Pelo simples fato de que, o jejum naquela época era sinal de estar na espera do Messias Salvador, era um lamento, para festejar a boda definitiva com Deus, por meio desta prática se esperava anciosamente a vinda do ungido de Deus, Pois bem, os fariseus e os discípulos de João não se deram conta de que a festa, as bodas já tinham começado; Sim! em Jesus, esta espera é realizada, o Reino de Deus chegou no meio do seu povo, Deus se faz presente,  de modo que a nossa relação com Deus desde sempre foi vista como um casamento, é por isso que Jesus diz, podem jejuar, e, por conseguinte, lamentar enquanto o Noivo (Jesus) está no meio deles? a alegria chegou, Deus está no meio do seu povo, esta alegria é expressa no livro do Cântico dos cânticos: "amigos, comei e bebei" (Ct 5,1). Há uma diferença, não é que  os discípulos de Jesus não jejuam, Jejuam sim, ams no tempo oprtuno, e não como um lamento, mas com a esperança de uma dia poder participar na glória, do banquete celestial com o divino esposo. Deveras este esposo foi tirado uma vez (sua Paixão e morte) com a Ressurreição ele veio aos seus, mas depois partiu (Ascensão), e virá uma segunda vez para tornar pleno tudo o que foi feito por ele e para ele.
Depois, é bom dizer que esta novidade trazida por Jesus (Remendo novo), não pode tapar o que é velho (antiga aliança) ela não é um remendo para tapar o pano que se gastou, este remendo que em grego aparece com o nome PLEROMA, significa plenitude, ou seja, Jesus vem tornar pleno o que era antigo, é a plenitude da graça e da vida nova que ele veio trazer para a humanidade, esta alegria expressa na imagem do Vinho, não pode ser contida num odre velho.
Vivamos pois, a alegria de termos o esposo em nosso meio, experimentemos o vinho novo da salvação que ele nos concede.



 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

EU TE CHAMO PARA AVANÇAR ÁGUAS PROFUNDAS


Caros amigos e amigas, estamos no mês dedicado a um aprofundamento maior da Sagrada Escritura, enquanto meio eficaz no qual a Palavra de Deus se revela a cada um de nós, sim, nós não cremos e nem somos a Religião do Livro, não cremos em meras letras, nós cremos numa pessoa, Jesus, é Ele a Palavra Eterna de Deus Pai, os escritos sagrados apontam para Ele, a Palavra Encarnada que veio escrever a sua história em nossa história. Por isso, cada vez que nos aproximamos dos Escritos sagrados, dos Evangelhos, nos aproximamos do coração de Cristo, que anseia que o escutemos e demos um novo rumo as nossas vidas.

Quero vos convidar, a mergulharmos neste coração de Cristo, a partir do chamado que Jesus faz a Simão, o pescador e a alguns de seus companheiros de trabalho, é o texto de Lc 5,1-11:

Naqueles tempo, 1Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões.
4Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. 5Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. 6Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem.
8Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. 11Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.

Observemos, Jesus está às margens do Mar da Galileia, antes de lá chegar, Ele cheio do Espírito Santo, como o Ungido de Deus, vem pelas estradas, pelos caminhos, passando pela vida das pessoas, com uma única intenção: Anunciar o Reino de Deus, a Palavra de Deus, à humanidade sequiosa de uma vida em plenitude, é tão verdade que ao chegar à margens do mar, uma grande multidão o aperta, sedente de escutar as suas palavras. Todavia, até o presente momento, Jesus está anunciando a Palavra de Deus sozinho, ele não quer permanecer assim, deseja associar a si os grupo de discípulos, para que caminho junto com Ele, anunciando a Boa-Nova de Salvação.

Vendo Jesus que a numerosa multidão o comprimia, ele busca uma solução, para falar-lhes como Mestre; às margens do lago, Jesus vê duas barcas paradas, e os pescadores, lavando as suas redes, seus instrumentos de trabalho. Jesus se aproxima e sobe numa das barcas, que o texto sagrado diz, era a de Simão, parece o dono daquele instrumento de Trabalho, sentou-se e pediu que a afastasse um pouco da margem, e de lá começou a ensinar a multidão. Aqui existe algo precioso, que toca a vida de cada um de nós. Aquelas duas barcas eram o meio daqueles simples, e vis pescadores conseguirem seu sustento, nela estava seus sonhos, seus ideais, suas lágrimas, suas alegrias. Pois bem, Jesus escolhe uma delas, a de Pedro, não por acaso, primeiro porque a barca de Pedro, sempre foi vista como a Igreja, é a barca de cada um de nós, é a nossa própria vida, nós  que somos cristãos e cristã; e também,  porque ele deseja, conduzir a vida de Pedro, para um Rumo diferente, Ele tem uma missão para Pedro, era como se Jesus estivesse a dizer: me dá a tua vida, os teus sonhos para eu reconduzi-los, quero te mostrar uma realidade nova, quero te mostrar o caminho da Vida em plenitude. Eu sou o Mestre que ensina a viver; é por isso que Jesus ensina sentado, como um Verdadeiro Mestre.

Quando Jesus acaba de falar, convida a Pedro, a sair da superficialidade, e, por conseguinte, a lançar a própria vida naquilo que tem profundidade, no que é essencial, simbolizado, pelo avançar para águas mais profundas, e lançar as redes. Jesus também, chama a cada um de nós, para abandonarmos aquilo que é supérfluo nesta vida, e a avançarmos para o essencial da vida, que é estar unido a Ele. Portanto, ao escutar o pedido de Jesus, Pedro logo se questiona, trepida, e diz: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos”. Era normal esta atitude de Pedro, Ele  deveria ser um pescador experimentado, e por isso, tinha sabedoria com a sua profissão, sabia que o momento ideal de se pescar era a noite, e se passasse deste horário, seria inútil pescar de manhã, pois nada apanhariam. Imaginem um carpinteiro, ensinando um pescador, a como deveria pescar, parece ilógico. A Resposta de Pedro, é a nossa também, nós nos conhecemos, sabemos quem nós somos, temos medos, questionamentos, não é fácil atender os apelos de um desconhecido que passa na nossa vida.

Mas Pedro atende ao apelo daquele que ele chamou de mestre, em atenção à Palavra dele, ele o obedece e atira as suas redes ao mar. Certamente, ele ao jogar as redes, imaginou que não daria certo, que seria em vão. Nós também, ficamos com nossas incertezas no caminho de seguimento a Jesus, será que vai dar certo, valerá a pena mesmo.  De repente, Pedro, se surpreende com o peso das redes, que viam cheias de peixes, ele não tinha forças para puxá-las sozinho, por isso chama alguns de seus companheiros para  o ajudarem, eles vieram, puseram as redes em suas barcas, e a quantidade de peixes, era tão grande, a ponto da barca quase afundar. Imaginemos o semblante desconcertante de Pedro, sua perplexidade, seu espanto e admiração ao ver aquele grande milagre que passava pelos seus olhos. Mas, Deus nos desmonta, nos surpreende sempre, nos vira de cabeça para baixo, desconcerta nossa pobre sabedoria, é aquilo que S. Paulo nos diz na primeira cara aos coríntios: “Ele apanha os sábios em sua própria astúcia” (1Cor 3,19).

Pedro demonstra seu espanto, sua admiração, quando cai de joelhos aos pés de Jesus e diz: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”. Que gesto de Simão! Que humildade! Que bela profissão e fé, lembremo-nos que Simão ora chamou e reconheceu Jesus como o mestre, agora ele reconhece que Jesus é Senhor, é Deus, e por isso não se acha digno de estar diante dele, se reconhece como pobre, como simples, como pecador. Deve ser a nossa atitude, diante de Deus, nos reconhecer pequenos, indigentes, fracos, a sabedoria vil que nós temos, nem se compara com a sabedoria que Deus quer nos conceder, ou seja, conhecer a Ele mesmo. Deus não nos engana amados irmãos, Ele é o Senhor de nossas vidas, ele mostra a Simão, e a cada um de nós que vale a pena segui-lo, nele nós temos segurança, abrigo, refúgio, nele nós encontramos o rumo certo de nossas vidas, Ele disse a Simão, aos discípulos e diz a cada um de nós: “Não tenhas medo!”. Sim nós não podemos temer em entregar o rumo de nossas vidas a Jesus, não perdemos nada, mas ganhamos o tudo, ganhamos a vida feliz unidos a Ele.

Jesus tinha uma missão para Simão: “De hoje em diante tu serás pescador de homens”. Simão agora deve ir com Jesus, anunciar o Reino de Deus, atrair pessoas para viver este caminho de fé, aquele que pescava peixes, agora deve pescar homens, para a Igreja de Cristo, pois eles não pertencem ao mundo, mas a Cristo, a Deus. É esta a missão que Jesus tem para cada um de nós, sair pelo mundo, convidar a muitos que andam nas trevas, a experimentar a luz, a vida, o amor de Deus.

Quando a gente experimenta um encontro íntimo com Jesus, escuta a sua Palavra, a devemos ser capazes de abandonar a vida antiga, com nossas meras posses e seguranças, dos meros sonhos e ideais, aquilo que nos prende e de certa maneira é passageiro, para nos abandonarmos nas mãos de Deus, para entregar o rumo de nossas vidas a Ele, ao nosso Mestre, ao Nosso Senhor e Salvador. Assim Simão e os outros fizeram: levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.

sábado, 1 de setembro de 2012

DE CORAÇÃO PURIFICADO, HABITAREMOS NO CORAÇÃO DE DEUS

Amados irmãos e irmãs em Cristo Jesus, celebrando este XXII Domingo do tempo comum, a divina liturgia, faz ressoar em nossos corações as palavras desejosas do salmista que diz: “Senhor quem morará em vossa casa, e em vosso monte santo habitará”? (Sl 14). Somos chamados a de coração humilde, nos perguntar: o que faremos, para entrar na pátria feliz, na vida de amor com Deus, para assim vivermos a vida em plenitude e a alegria verdadeira? A resposta nós encontramos na primeira leitura: “ter a Lei de Deus diante de nossos olhos”.

Pois bem, neste domingo a Lei aparece no centro de nossa liturgia, o grande dom que Deus concedeu ao povo para que ele, seguindo os seus preceitos seja santo, como Deus é santo. Na liturgia do domingo passado, nós víamos que Deus é ciumento, não quer ser posto em pé de igualdade com os outros deuses, Ele é fiel, e nos chama para viver com ele uma aliança de amor, mas ao mesmo tempo, sabe que nós corremos o risco de lhe sermos infiéis, por isso, dá-nos um meio eficaz de podermos caminhar com fidelidade para vivermos esta aliança de amor. Deu-nos a Lei, as dez palavras, que não são um fardo, mas uma instrução, uma pedagoga que  vai nos ensinando a viver com Deus uma vida feliz; foi isso que nós escutamos na primeira leitura, Deus, por meio de Moisés convidando o povo a guardar os mandamentos, a pô-los em prática, a se deixar guiar por estas palavras santas de Deus, de modo que seguindo a Lei, como sinal de obediência o povo viveria na vontade de Deus, e por conseguinte, seria feliz, experimentaria o dom da terra prometida. Era praticando a Lei que o povo encontraria a sua identidade, de ser o povo santo de Deus, e também quem Deus é: próximo, cheio de amor, “Qual a nação cujos deuses lhe são tão próximos, como o Senhor nosso Deus” (Dt 4,7).

Esta lei deve ser vivida, não de forma externa, como meros preceitos, mas deve partir do interior que anseia fazer a vontade de Deus, fazendo com que o coração se converta por inteiro a Deus. Por isso que no Evangelho de Hoje nós encontramos Jesus que num diálogo com os fariseus e os mestres da lei, homens que até conheciam e viviam por demais a Lei, mas num determinado momento de suas vidas, abandonaram o essencial da lei, para viver a sua exterioridade, por isso criaram mais preceitos, cerca de 613, que como uma grande barreira envolveram a lei, levando-a a ser um pesado fardo na vida do povo, um instrumento de opressão, um destes preceitos da tradição dos antigos, nós encontramos no evangelho, quando os fariseus e os mestres da lei criticam os discípulos de Jesus que comiam os alimentos  sem lavar as mãos, ou seja, estavam com as mãos impuras, e também deveriam lavar os alimentos, pois tudo estava impuro, esta lei de purificação era destinada só e unicamente aos sacerdotes, mas a partir das prescrições farisaicas, criou-se a necessidade de que o povo também seguisse estes ritos de abluções e purificações.

Todavia, Jesus, veio não para abolir a lei,  mas para dar pleno cumprimento, portanto, ele faz ver que aqueles fariseus amam a Deus de forma externa, aparente, mascarada, daí chama-los de Hipócritas, e não com todo o coração, com toda a alma, dizem que seguem os divinos mandamentos, mas na verdade, seguem meros preceitos, por isso lhes advertiu: “vocês me honram com os lábios, mas o vosso coração, está distante” (Mc 6, 6).  Jesus os fará ver que o que torna o homem impuro, não é o que vem de fora, mas o que sai do seu interior, do coração do homem. Ou seja, Jesus faz ver que para servir a Deus, seguindo os seus mandamentos, faz-se necessário que tenhamos o coração purificado de tudo aquilo que nos afasta dele, pois é do coração humano que saem as más intenções e inclinações; interessante é que Jesus cita pelo menos doze males que afetam o homem em seu interior, e o tornam impuro, e que de certa maneira estão ligados aos dez mandamentos, ei-los: “imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21). Por isso, faz-se necessário que convertamos o nosso coração a Deus, nos rendamos inteiramente ao seu divino amor, tenhamos os olhos voltados unicamente para ele, e com isso nosso coração se esvaziando do que é mal, se encherá de tudo aquilo que é bom e torna o homem feliz.

Nós só seremos felizes, e teremos a vida pura, se formos capazes de viver a Palavra de Deus, a Lei de Deus, em nossa vida, assim nos ensina o salmista noutra passagem: “como o jovem poderá ter vida pura? Observando ó Senhor vossa palavra”. A isso, também, nos adverte São Tiago na segunda leitura: “é preciso ser praticantes da palavra e não meros ouvintes”. Amados irmãos e irmãs, nós fomos criados por meio desta Palavra, depois, no dia de nosso batismo, ela foi plantada em nossos corações, como uma semente que deve crescer e dar fruto. Portanto, seria utópico, conhecer a Palavra, que é Deus, e é amor, pois a plenitude da lei é o amor, e não pô-la em prática, não transbordá-la na vida cotidiana. Enquanto membros da religião do amor, “que assisti os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixa contaminar pelo mundo”, somos fortalecidos a viver este amor, que nasce do coração de Deus, e está inserido em nosso interior, e assim nos faz de coração purificado, viver a felicidade sem fim, que é habitar um dia na casa de Deus. Voltamos, pois, à pergunta inicial: “Senhor quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará? Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho, que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”. Somente de coração purificado, poderemos habitar no coração santo de Deus. Que assim seja!