Caríssimos
irmãos e irmãs, no domingo passando estávamos espiritualmente no deserto com
Jesus, quando ele foi tentado, prenúncio de seu combate com o tentador na cruz.
Hoje Jesus nos convida a subir com ele para o monte, onde lá ele revelará a
glória de sua divindade, em sua transfiguração, prenúncio de sua ressurreição.
No
evangelho, Jesus toma três de seus discípulos: Pedro, Tiago e João, e sobe a
montanha com eles para rezar. Primeiro, leva somente os três porque serão eles
a conduzir a Igreja nascente, mas também, porque revelando a sua glória deseja
fortalecer a fé, e o coração de cada um deles para poderem enfrentar com
coragem todo o sofrimento da cruz. Jesus sobe com eles a montanha, o Monte
Tabor. E vejam, o monte é sempre o lugar
do encontro íntimo e pessoal com Deus, lugar da revelação de Deus, lá se
respira não somente o ar puro da criação, mas sobretudo, o ar do Espírito de
Deus, por isso o monte se revela como o lugar da oração. E foi justamente
enquanto Jesus rezava que Ele foi transfigurado, seu rosto mudou de aparência, “resplandeceu
como o sol” (Mt 17,2), e sua roupa ficou
muito branca e brilhante, “alva como a Luz” (Mt 17,2).
Diante
deste esplendor de glória nós compreendemos que a Transfiguração de Jesus foi
fruto de sua oração, de sua intimidade com o seu Deus e Pai, intimamente unido
a Ele, pôde desta união tão profunda, irradiar sobre sua humanidade, a luz da
glória de Deus, pôde revelar o mais profundo daquilo que ele é: Deus de Deus,
Luz da luz. Ele não somente foi envolvido pela luz, mas Ele mesmo é a Luz. Seu
rosto brilha porque ele é a imagem, “o esplendor da glória do Pai” (Hb 1,3).
Todavia, as vestes dele que ficaram
brancas e reluzentes são imagem da veste dos eleitos, dos redimidos, daqueles
que foram lavados no batismo, e que foram e serão lavados pela paixão e morte,
como nos diz o apocalipse de S. João: “aqueles que lavaram suas vestes no
sangue do cordeiro” (Ap 7,14).
Estando
Jesus transfigurado, eis que aparecem conversando com ele, Moisés e Elias, o
primeiro é imagem da Lei, que Jesus veio aperfeiçoar, o segundo é imagem dos
profetas que anunciam o Cristo. Eles conversam com Jesus, sobre um assunto de
grande importância, sobre o seu êxodo, a sua partida, o seu sofrimento e morte,
sua partida para a terra prometida da cruz e da ressurreição. Reparem amados
irmãos e irmãs, o Sacrifício de Cristo na cruz, selará a nova e eterna aliança
entre Deus e a humanidade, onde o próprio Jesus se deixará ser partido, no
verdadeiro sacrifício, consumido pelo fogo do Espírito (Hb 9,14). Daí nós
entendemos o sentido pleno do sacrifício de aliança de Abraão na primeira
leitura, onde os animais foram partidos e trespassados pelo fogo de Deus. Portanto,
a presença de Moisés e Elias na transfiguração, falando sobre a morte de Jesus,
indica que as Escrituras atestam que Jesus deve sofrer, carregar a cruz,
morrer, ressuscitar para entrar na glória, e ela só tem um caminho, a Cruz.
Por
conseguinte, Pedro, Tiago e João estavam dormindo, e quando acordam experimentam
não o fato, mas o resultado do acontecimento, não viram a transfiguração, viram
o transfigurado. Pois, bem, perante este esplendor, Pedro faz um apelo a Jesus:
“Mestre é bom estarmos aqui, vamos fazer três tendas, uma para ti, uma para
Moisés e outra para Elias”. Este apelo de Pedro, na verdade revela que ele não
sabia o que estava dizendo. Vejam, Pedro queria estar ali, quase como que preso
a esta luz passageira; entretanto, havia uma glória maior a ser experimentada,
a glória que passa pela cruz, a Ressurreição. E por meio da ressurreição, aí
sim ele e nós, habitaremos numa tenda não humana, terrena, mas numa tenda
celeste, onde o Senhor Jesus Ressuscitado e assunto ao céu, sobe ao Pai para
preparar a nossa verdadeira Tenda, a nossa morada verdadeira e definitiva, o
céu.
Esta
verdade nos foi dita por São Paulo na segunda leitura: “nós porém, somos
cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso salvador, o senhor, Jesus Cristo. Ele
transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo
glorioso”. Portanto, a transfiguração de
Jesus, abre uma para a nossa transfiguração.
Pedro,
na verdade, não se deu conta de que na terra, junto dele, já havia uma tenda,
Jesus, “O Verbo se fez carne e armou a sua tenda em nosso meio” (Jo 1,14). Por
isso que como a nuvem de Deus, imagem de sua presença envolveu a tenda de Deus
no antigo testamento (Ex 33,10), agora a nuvem, envolve a verdadeira tenda que
revela Deus aos homens, Jesus. E é justamente desta nuvem que se ouve uma voz
revelando quem é Ele é: “Este é meu filho amado, escutai o que ele diz”. Jesus
é o amado do Pai, aquele que foi enviado ao mundo para salvar a humanidade. No
antigo testamento, Moisés na montanha recebeu a Lei, a Palavra de Deus, agora
no Novo testamento, Jesus, o Novo Moisés, é a verdadeira Palavra de Deus, que
guia a nossa vida, e por isso devemos escutar o que ele diz. Mas o que ele nos
diz, como palavra de verdade que muda o rumo de nossa vida?: “se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. É somente seguindo
Jesus no caminho da cruz, que nós experimentaremos a verdadeira glória, a
ressurreição, a nossa transfiguração. Amém!